Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Ai Mãezinha…

Livros sobre maternidade é vê-los nas livrarias aos pontapés. Livros sobre emigrantices é coisa pouca mas há artigos nos jornais e nas revistas não faltam crónicas sobre o tema. Agora livrinhos, tipo guias com dicas e sugestões para Mães Emigrantes: ESSES NEM VÊ-LOS! 
Eu gosto de estar preparada, ter a lição estudada e confesso que se esta coisa de ser Mãe já não é pêra doce apesar de todos os avisos, fazê-lo no estrangeiro é como ter lições de condução na Madeira num carro sem travões. Como a grande maioria das mãe quando tenho um caso de emergência com a minha filha a primeira coisa que faço é ligar à avó, que para além de já ter experiência óbvia na matéria acrescenta ainda o título de enfermagem. Entre muitas situações, recordo-me da minha mãe ter dito “vai à farmácia comprar xarope de maçã reineta”. Eu fui e pedi o dito xarope, mas até hoje o farmacêutico está convencido que eu não sei a diferença entre uma farmácia e uma frutaria. No dia em que registamos a nossa filha, eu senti-me uma perfeita anormal por ter um nome completo com mais de cinco nomes, coisa de que a senhora que nos atendeu apenas se recordava de ter visto com uma moça columbiana “mas que não tinha tantos nomes como a senhora...tinha só 3”. De facto, deveríamos ser todos como os italianos, ter um, máximo dois, nomes próprios, um apelido apenas e 3,786.945 pessoas com o nome igual ao nosso. Ora digam lá se não É COISA MUUUUUITO MAIS INTELIGENTE!? Mas se há coisas que se explicam com um “culturas diferentes" há outras que nem na marra. Ora expliquem lá a uma mãe italiana que um cueiro não é um vestido e que os meninos recém-nascidos também os vestem...e assistam a uma mudança radical da sua expressão facial. Pois... 
Ainda há uns dias em conversa com uma outra mãe emigrante cheguei à conclusão que afinal não sou a única que passa a vida a responder à pergunta “mas então que língua é que falas com a tua filha?” e tentar manter uma perspectiva positiva de que já nem isso consigo porque depois de dois anos (quanto mais 15) fora nenhum – repito, NENHUM – emigrante consegue falar a sua língua materna sem pelo meio meter uma argolada estrangeira. Não há escapatória para o mais são dos emigrantes, é fisiológico: calinadas na língua materna é bicho que ataca as entranhas de todo o emigrante. Eu espero que a minha filha consiga aprender a falar um português decente, sem sotaques esquisitos que deêm motivo de galhofa, mas tendo em conta os pontapés exemplares que eu mando nos tomates da gramática portuguesa, a miúda está perdida. 
Não bastassem todos estes dilemas digam-me lá que raio de infância é a da minha filha num país que desconhece o Cerelac e o Nestum!

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