Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

terça-feira, 30 de junho de 2015

Férias de Verão na Terra

Emigrante que se preze vai de Férias à Terra. Aliás, Ir à Terra no Verão é uma cena que só mesmo os emigrantes é que entendem. Mesmo os emigrantes mais viajados, aventureiros e anticonformistas não vão para fora de pé no que diz respeito a este assunto – valores mais altos se levantam! Até quem vive no epicentro de um destino paradisíaco não cede: Verão que é Verão é na Terra. Ponto final. 
Aquelas semanas que antecedem a partida para as férias de Verão são de um excitex impróprio para cardíacos. São tantos os planos. Imaginam-se dias de praia intermináveis, esplanadagem infinita até criar verdete na cadeira, sardinhadas rijas e noitadas inesquecíveis com os amigos, que habitualmente são os melhores do mundo. 
A aterragem do avião no aeroporto da Portela é o clímax. O sonho está ali, realizou-se! O céu azul confirma que até São Pedro está pelos ajustes. Aaaaah! Retiram-se as bagagens com sorriso de orelha a orelha que em poucos minutos se transforma em lágrimas de alegria quando as primeiras caras que se vê são a família mais próxima. É o céu! 
Bagagens no carro e...prontossss acabaram as férias. Sai-se do aeroporto e a cada quilómetro de segunda circular que se faz, é ver mais um plano a ir por água abaixo. É o princípio do fim. "Porquê?!?", perguntam vocês. Porque o Verão do Emigrante na Terra é uma espécie de ideal político, simplesmente não funciona como previsto. 
Ir à Terra é sinónimo de encontros obrigatórios, família e amigos que nos querem ver – alguns se não os visitamos ficam piursos, umas damas ofendidas – depois há toda uma série de coisas pendentes para tratar que se deveria ter feito na “última vez que cá tive” e que incluem ir ao banco, esperar no guichet da câmara municipal, levar uma estopada no registo civil para além da visita obrigatória ao médico ou, pior, ao dentista. No meio de tudo isto há ainda uma média de dois almoços combinados por dia e 3 jantares por noite, fora o lanche, o brunch, o café, o pequeno-almoço, o chá e até a cervejola ao final de tarde. Tudo isto está combinado, adjudicado e não admite reajustes e muito menos falhas de presença. Toda a espécie de programas que deveriam fazer parte de umas férias relaxantes mas que ao invés passam a fazer parte de uma agenda recheada que habitualmente atira o desgraçado do emigrante para um canto às 21h. Bom, a noitada já era. 
As férias de Verão na Terra são um oásis. A malta emigrante bem tenta, às vezes ficamos ali no limbo, no quase, mas a verdade verdadinha é que nenhum de nós consegue. 
Já no avião de regresso a casa depois das supostas Férias de Verão na Terra o emigrante jura para nunca mais, pois que precisa de ir descansar de um ano de trabalho e que de facto foram curtos os dias em que se dedicou ao ócio. Que se regressa mais cansado do que quando chegou a Portugal. Ali, a seco projectam-se férias que hão-de vir para um destino longe com’ó caraças, onde não se avistem repartições de finanças nem lojas do cidadão e onde a existência seja feita em regime de “não quero fazer um cu pá"
Mas depois os dias passam, as semanas também, os meses avolumam-se e até uma escapada paradisíaca qualquer não acalma o bicho – VERÃO É NA TERRA! Estúpidos. Entrámos novamente no vértice da ilusão.
Eh pá, não fosse o pão com manteiga e o abraço dos amigos era melhor que batêssemos com a cabeça na parede. Com força!

domingo, 28 de junho de 2015

O drama o horror! O verão na Alemanha!

Falar de verão na Alemanha é como falar de ejaculação precoce. 
Já vou no terceiro verão aqui e, mudam as moscas mas a merda é a mesma.

 Os senhores da meteorologia alemã deviam levar com um pau nas ventas, porque cada vez que saio de casa, chove, faz vento, faz sol, trovoada, calor e humidade quase nos 100%, fazem todas os cenários meteorológicos  num só dia.
 Nunca nada é certo em termos meteorológicos, de forma que deixei de esticar o cabelo, deixei de usar saltos, sandálias e alpargatas de pano.

 Os meses de Junho e Julho são de costume quentes. Quentes como quem diz na ordem dos 23 graus (uuuuhhh esta gente tem orgasmos quando a temperatura chega aos 30 graus), para falar a verdade é péssimo porque como não é hábito estar tanto calor nem todas as lojas, autocarros e eléctricos têm ar condicionado! Continuo a preferir andar de bicicleta em dias quentes, para além de levar com o vento na tromba não cheiro o sovaco alheio.

 O verão chega e, chega também o meu medo, com ele volta o cheiro a refogadinho da tasca de Campolide, o cheirinho a ranso e o cheirinho a queijo. Todo um arsenal de odores característicos de calor.

 Há piscinas? Há piscinas sim, às quais eu já fui e já desisti porque as marrãs brancas gostam de ir a banhos com fatos de competição olímpica de natação e, para apimentar a sexy lady obesa, botam-lhe um calção do marido! Espero que as que se apresentam com tal figurino não estejam com a história, caso sim, a visão do inferno permanecerá na minha memória pelo menos até ao inverno de 2020 e não voltarei a colocar o meu pé numa piscina municipal alemã.

Sabem aqueles filmes da idade média, que têm aquelas gordinhas vestidas de medievais e têm rosetas e são loiras? Pensei que existissem só na ficção, elas existem e vestem calções de ganga com as bordas do rabo de fora.

Desculpa Merkel, desta vez foi a doer, mas tu também não deves fazer boa figura numa praia!


Quem escreve estas horrorosas descrições não sou eu, é a outra que vive em mim!





E estás com sorte que eu tapei a visão do inferno com uns ícones mais engraçados!!!


sábado, 27 de junho de 2015

Malas e bagagens

Mais de uma década de emigração e garanto-vos que sou um Às a fazer e desfazer malas. Eu sou tão forte nisto que estou a considerar seriamente apresentar-me no “Italia’s Got Talent” como profissional da modalidade. 
Para um mês de estadia em dois destinos com climas opostos, eu consigo escolher o que levar, dobrar tudo direitinho e eficazmente dar por seladas três bagagens: a minha, a do meu homem – que apesar de ser o amor da minha vida, é uma nódoa a fazer malas – e a da criança, necessaire e tecnologias várias com carregadores incluídos em 30 minutos. AH, desta é que vocês não estavam à espera!?! 
Consigo ainda a proeza de não exceder limites mínimos permitidos por bagagem nos aviões, sem me meter em cima da balança com a mala nos braços para tirar a prova dos nove ao mesmo tempo que me saem pérolas da boca como “28kg....eu acho que eles deixam passar...não posso é tirar mais nada porque aqui dentro só está mesmo o essencial!” E mais difícil ainda, consigo evitar aquelas coisas supérfluas, que efectivamente não servem para porra nenhuma, como por exemplo aqueles calções XS que esta ano continuarão a NÃO servir porque se a massa adiposa não mudou nos últimos dois meses não é a mamar imperiais e a comer caracóis e sardinhas no pão que vai diminuir. 
Meus amigos, na minha bagagem vai mesmo o que eu preciso, o que eu vou usar – com imenso estilo, diga-se de passagem – para todas as ocasiões e ainda umas alternativas de última hora que também serão usadas. Pois é, eu sou um mito! 
Como em tudo na vida, também aqui serviu tempo para a conquista plena da arte. E eu já levo muitos anos a virar frangos. Malas para uma semana ou um fim-de-semana é o somenos para uma mulher que por 3 vezes e sem bilhete de regresso já empacotou uma vida, em 30kgs de bagagem permitida, excesso incluído, e mala de cabine a rebentar pelas costuras. Momentos traumatizantes que me trouxeram sabedoria infinita! 
Por tudo isto decidi passar-vos uma mensagem de esperança em dias de férias, viagens, bagagens e dores de cabeça por culpa dessas trampas todas. Se eu e os meus sapatos aguentámos o embate da separação sem retorno à vista, também vocês conseguem fazer uma mala decente para o Algarve – e quem diz Algarve, diz Costa Vicentina, República Dominicana, Baleares ou Sudoeste Asiático. Não se ponham com merdas a levar este mundo e o outro, porque eu sei, vocês sabem, e TOOOOOODA a gente sabe, que não irão vestir metade. 
Renunciem à fraqueza da mente. Não sejam uns ovos podres! 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Ignorância e um paninho branco para os embrulhar!

Provoca-me urticária nervosa cada vez que oiço um estrangeiro a falar de Portugal. (mal por pura ignorância)

São mais que muitas as aberrações que já ouvi acerca do nosso país, esta gente julga que em Portugal ainda não existem máquinas de lavar e as mulheres têm bigode.
  Man, esta gente não toma banho diariamente e rapa-se com gilette e têm a lata de dizer que nós temos bigode e somos toscos? Fibra ótica é algo que esta gente nem sabe que existe e Portugal está praticamente na vanguarda do produto, VIA VERDE entre outras invenções, mas nem quero vir para aqui enumerar a nossa qualidade e bom gosto.

Quando abri uma conta bancária, o tosco do homem ao informar-me do produto bancário, dizia-me com orgulho:

O TOSCO- Poderá fazer transferências bancárias via Internet.

EU- Não acredito? Quando inventaram isso? (Ironic level 100%)

O TOSCO- Há muito pouco tempo. Não é espectacular?(Dizia o senhor com aspecto porcamente sales demodé)

EU- pffff…Desculpe informá-lo, mas em Portugal eu já faço transferências bancárias pela Internet há mais de 8 anos e, não tenho de utilizar uma máquina tosca para confirmar o código, eles enviam por mensagem via telemóvel. (pategos da merda!!!!!!)

O TOSCO- A sério? Pensei que em Portugal…

É que nem o deixei acabar a frase, interrompi com: Por acaso já foi a Portugal, Lisboa, Porto?

O TOSCO- Já fui ao Algarve e tem excelentes praias!!! Adorei!

EU - Amor, Portugal não é só Algarve, isso é uma zona do país onde os pategos dos estrangeiros passam férias, são enrabados com preços altos e onde os portugueses vos enfiam o dedinho no cu para voltarem só mais uma vez. Há mais coisas para visitar!

Mostrei-lhe através do meu telemóvel a Comporta, Cascais, a Costa Vicentina entre outras pérolas que temos, sempre no registo de hotéis carérrimos, para impressionar o Tosco.
Desta forma, calei o senhor!

Tenho muita pena quando as pessoas não conhecem Portugal e falam mal, como reagir? Respondo com apenas três palavras mágicas: Primeira, Segunda e Marshall.

Eu adoro viver aqui, a maioria das pessoas que conheço são educadas e bastante queridas, os velhos são amorosos, mas há gente que tem a mania que isto aqui é o supra-sumo da civilização ocidental e o sucesso económico mundial único e privilegiado, não se tocam que enquanto não se banharem diariamente não terão o meu respeito.


Senhor dai-me paciência e um paninho branco para os embrulhar!


A dieta e a Feira de São João

A dieta e a Feira de S. João combinam explosivamente.
Durante 11 (atenção: eu disse ONZE) dias não há hipótese de fazer dieta. Nem nada que se pareça.
Aliás, em Évora, é terrível fazer dieta 365 dias por ano. Às vezes, chegam a ser 366!
Viver em Évora é uma tortura gastronómica. Eu devia ter adoptado uma ténia abandonada quando para cá vim. Não é concebível fazer sacrifícios no sítio onde até o cheiro do pão apetece comer. Sabem aquele pão que cheira e que tem a consistência exacta e que combina bem com a manteiga e com o paio de Oriola? Ou até com queijo tipo flamengo linha própria? É esse. Não é humanamente suportável, diria até que chega a ser criminoso, trocar isso por um qualquer iogurte magro cheio de sementes que, convenhamos, todas juntinhas e depois de levadas ao forno, davam um belo “panito”…
E o pão é o começo. Porque do pão veem as migas. Que também podem ser de batata. Ou até de couve-flor. Se a minha mãe sonhasse que me babo por umas belas migas de couve-flor tinha-se tornado especialista nas ditas desde a minha primeira sopa.
E com as migas, a carne do alguidar. E as plumas. E os secretos. E as sopas de beldroegas. E as de alface. E as ervilhas escalfadas com ovos. E as açordas. Tudo com pão.
Como é que se consegue escolher um peixinho cozido ao almoço se o prato do dia é uma sopinha de tomate caseira com carninha frita e um ovinho? Claro está que com umas sopinhas. De pão. Eu não consigo.
By the way, amanhã começo a fazer dieta. Mas hoje ainda vou comer uma fartura à feira. E umas amêndoas caramelizadas.
Ou então, não começo amanhã e espero pelo fim da feira. Afinal, calha numa segunda feira e nenhuma dieta se começa a meio da semana…

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Os bons amigos

Há coisas que se tornam claras como a àgua quando te mandas para fora de pé e decides mudar de país. Logo nas primeiras luas percebes claramente quem são os teus verdadeiros amigos, quem são aqueles de quem sentes tanta falta que até dói, ou quem são aqueles que pura e simplesmente não sentes falta nenhuma.
Os amigos que ficaram em Portugal continuam a fazer parte da minha vida. Há os que de vez em quando se lembram de me dizer um Olá! Há aqueles que simplesmente me dizem bom dia (ao que eu invariavelmente respondo boa noite, sim porque eu vivo no futuro). Há aqueles que são boas surpresas e que passam a estar mais presentes na tua vida do que alguma vez estiveram. Há aqueles que fazem questão de me contar em primeira mão algo de muito importante que está a acontecer na vida deles, como se não o pudessem revelar ao Mundo antes de o partilharem comigo. Há aquelas amigas que me mostram o vestido com que vão casar, ou a barriga a crescer, ou as primeiras fotos do seu tão desejado rebento. Tudo isto me enche o coração e me faz perceber como sou abençoada.
Há depois o lado de fazer novos amigos no país onde escolhemos viver. Conheço muita gente que sente grandes dificuldades em fazer amigos e que não conseguem sentir-se identificados com ninguém. Mais uma vez tenho tido uma sorte do caraças. Os amigos que escolhes no “estrangeiro” tornam-se na tua família. São eles a quem ligas quando estás doente e só queres o colinho da tua mãe. São eles que te ajudam a criar raízes e tornam a tua vida mais fácil. São eles que partilham experiências contigo que os amigos lá de Portugal teriam dificuldade em entender. São eles que te vão acompanhar para o resto da tua vida. Sou uma sortuda, tenho uma família cada vez maior e espalhada pelo Mundo!


terça-feira, 23 de junho de 2015

Eu e algumas pessoas

Não sou pessoa que goste muito de comentar a vida alheia porque parto do simples princípio que todas as vidas têm os seus momentos de fausto e de monotomia. Problemas e alegrias fazem parte da vida de todos, é coisa transversal nesta cena de se estar vivo, por isso antes os meus problemas e alegrias que os dos outros. E mal ou bem, é a vida a fazer de nós aquilo que somos. Para além disso tenho a certeza absoluta que melhor que eu não haveria ninguém que vivesse a minha vida, sendo assim o que conta para mim, passa a meus olhos, a contar também para os outros. 
Neste panorama é raro dar-me ao trabalho de me chatear com os outros. Logicamente cruzo-me com o meu quinhão de pessoas chatas, outras inconvenientes, outras mentirosas, outras falsas ou inevitavelmente mal-formadas em toda a sua extenção, mas por muito que possam querer influenciar negativamente a minha vida não conseguem. Porquê? Porque eu não lhes ligo nenhuma. Viro-me para o outro lado, deixo sempre que passem ao largo, que levem a bicicleta, a carruagem, os cães, a razão e o bloquinho quadriculado com as anotações. 
Explicava eu este meu modus operandi quando uma amiga me pergunta: “então não há mesmo ninguém, ninguém, ninguém, nenhum tipozinho de pessoinha, que te deixe fora de ti!? Que não toleres de forma absolutamente nenhuma!?” 
Ora então, que disparate de dúvida, mas é claro que há!! Aliás, até existem dois tipos de pessoas que eu não suporto: os machistas e as pessoas que conduzem com os retrovisores do carro fechados. A conversa dos machistas não passa de uma verborreia incessante, um momento desprezível para a evolução da humanidade, uma prova clara de como a estupidez não tem limites. Uma pessoa machista é entre muitas outras coisas uma criatura sem respeito rigorosamente nenhum pelas dores de parto da sua Mãe, como tal merece todo o meu visceral desprezo. Quanto aos condutores com os retrovisores do carro fechados são, na minha sincera opinião, criaturas para ter de levar duas chapadas, todos ao dias, e logo ao acordar. Uma por cada retrovisor. 
Mas assim à parte de machistas e pessoas que conduzem de retrovisores do carro fechado – que tenho cá para mim que são a mesma pessoa – tolero toda a gente. 
Uma coração mole é o que eu sou. 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Courgettes com queijo de cabra ou bifanas?

Courgettes com queijo de cabra ou bifanas?
Uma das coisas que mais me lixa no ser humano é a sua incessante capacidade de ser imperfeito. Somos todos uns concorrentes potenciais ao Guiness. Eu, por exemplo. Não estou a falar em termos físicos. Nem tão pouco das questões enviesadas da moralidade social. Isso cada um é e faz lá como quer. Desde que estejam felizes eu vivo bem com isso.
Falo da falta de humildade. Essa cena faz-me inchar a glote a ponto de quase necessitar de doses gigantes de adrenalina injectadas directamente no coração.
Esta coisa idiossincrática que alguns têm que são melhores ou maiores ou superiores aos outros fica mal. Não se usa. Não somos todos iguais, facto. Mas podemos tratar bem toda a gente. E isto é uma cena que não se ensina depois dos dez anos. Ou se é intrinsecamente bom ou não. A capacidade de sermos simpáticos e educados é uma coisa nossa. É uma merda lixada de adn. Não vale a pena fingir que até somos bonzinhos e tal. Ou somos ou não somos. Assim como ou somos ou não somos simpáticos naturalmente.
Para se ter nariz empinado há que saber usá-lo. Usá-lo de forma deselegante não fica bem. É como os vestidos skaters: a pessoa até pode ser muito magrinha e gira mas se tiver umas pernas mal feitonas… Jisas Craiste! Não o vistam!!! A postura do gélido social é uma coisa que não se ensaia. Sai. É-se. Tem-se. E escusam de ter pipas de dinheiro, manadas de acções, hectares de cursos que isso nasce com a pessoa.
Era isto. Isto e decidir o que vou fazer para o jantar: courgettes recheadas com queijo de cabra ou bifanas?


sábado, 20 de junho de 2015

Dicas de dieta

Fazer dieta na Alemanha é pior que pontapés... (Prometi não dizer mal)

Cheguei com o peso ideal, estou com o peso não ideal para o meu ideal peso psicológico.
Nos primeiros meses comi o planeta, as verdadeiras salsichas, queijo, pão, tudo levava à boquinha. Imaginem uma rua cheia de restaurantes de todas as nações, pois! 

Corro e faço dieta constante para não alargar nem um centímetro, mas o lacão (gordura localizada que fica agarrada com cola tipo cimento betão, à volta da barriga),insiste em não despegar.

A altura de verão é a mais fácil, porque no eléctrico senta-se uma gordinha ao meu lado e eu sinto-me modelo. Uma gordinha veste uns shorts e a celulite grita, eu sinto-me modelo. Passo no Mac vejo uma gordinha a engolir um hambúrguer vivo e eu sinto-me modelo. Eis o segredo para manter a mente em modo elegância: senta-te ao lado de uma pessoa imensa, nota-se menos a nossa dimensão, os olhares irão sempre focar a gorda. 

Voltando ao tema, que eu detesto falar mal das minorias, a fruta é cara e pouco variada, às vezes parece ter sido parida de tão amarfanhada que está, os legumes têm de ser congelados para durarem mais tempo. A minha alimentação é mais à base de carnes brancas, saladas, fruta e muito amor.

Eu até adoptaria aquela alimentação à base de sementes da moda e batidos verdes, se gostasse. É o pior dos sacrifícios acordar cedo e beber um batido que me sabe a sopa fria. Ou comer alpista com chias, sementes do cacete e farelo das galinhas, é algo que me passa completamente à retaguarda. 

Em suma, dicas da Bita para se sentir bem com a sua dieta: primeiro, sente-se sempre ao lado de um gordo, segundo, vá para sítios onde há pessoas que são esculturalmente bonitas, boas, e assim fica com vergonha de comer, nega-se de forma natural a tudo o que envolva comida gorda. E beba muita água. 


Como prometido não disse mal disto! No próximo post irei voltar a dizer mal, caso contrário não teria tanta piada e eu teria a casa cheia de amigos a quererem passar férias em Mainz. 

Não vale a pena, aqui não há gajas boas, a cerveja é uma bosta e, acabaram as salsichas.

EU LOL                                                                                                                                       OS OUTROS

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Coreia

“Como é que é a Coreia?” surpreendeu-me esta manhã a mulher-a-dias cá de casa. Disse-lhe que não conhecia, nunca lá estive. Mas gostava pois tenho as melhores referências. Perguntei-lhe o porquê da curiosidade e enquanto os olhos ficavam brilhantes explicava que o filho “foi referenciado pela escola para ir trabalhar por 1 ano, talvez mais, num restaurante de um Chef famoso na Coreia…enfim, um dilema”
Eu disse-lhe para aligeirar a coisa, não era preciso estar triste, afinal de contas à primeira vista parecia um convite a não recusar para um rapaz que vai fazer 20 anos e terminou o ano com a melhor média do curso de Chef de cozinha. Melhor que ninguém ele haveria de tomar a decisão que lhe fosse mais acertada.  
“Mas ele quer ir, Isabel, eu é que não quero que ele vá. Parte-me o coração saber que ele está longe de mim!”. Bom, eu até sou uma gaja porreira mas doirar a pílula é coisa que não vai com o meu tom de pele, por isso enquanto já as lágrimas lhe corriam pelo rosto, sem papas na língua disse-lhe “minha cara, se ninguém te diz digo eu, o problema não é do teu filho, mas teu. Isso na minha terra chama-se egoísmo!” 
Sou emigrante, sou mãe e sou filha. Tenho as credenciais TODAS para discursar em temas deste género e com toda a franqueza vos digo: das coisas que mais dói antes da partida é a insistência do nosso Pai e da nossa Mãe para ficarmos. Custa horrores! É uma pressão horrível, injusta, que nos obriga a pesar num prato o amor pela família e no outro o amor próprio. 
Expliquei-lhe que muitos da idade do filho emigram sem qualquer plano, sem trabalho em vista, às vezes nem sequer um número de telefone de alguém que lá no país de acolhimento os possa socorrer num momento de aflição. Expliquei-lhe que o futuro pertence-lhe e que foi para este momento que o educaram. Expliquei-lhe que a saudade lhe irá bater mais forte a ela que ao filho mas que é para ISTO que se cria um filho. 
“Tenho de usar a razão, não é Isabel?” Não, tens de usar o coração porque, quem ama aceita a decisão de um filho partir para onde quer que seja.


40 graus

Junho. Ainda não é Verão. 30 e tal graus.
Há quem não goste mas eu nasci para viver assim. Adoro este calor. Que se nos cola à pele e ao estado de alma. Que nos deixa numa latência que nos desnorteia. Que apela à tristeza e à solidão.
É o calor da esteva. O calor amarelo que nos faz pensar se o deserto não estará mais perto que o norte de áfrica. É o tempo que nos torna indolentes e nos provoca gargalhadas da moleza para a qual nos atira.
Tão bom este calor de Évora. Que se vê no vapor que sai do chão e dos telhados escarlate desmaiado. Que nos cativa no andar silencioso de quem se atreve a calcorrear as ruas quando ele se instala. E um calor que fala connosco e que nos faz sentir que vale a pena viver aqui. Longe do que pode não ser o melhor do mundo mas que é o nosso. Aprendi a amar esta cidade e a sua luz. O céu de Évora é mágico. Tem cores que não há em mais lado nenhum. A luz da minha Lisboa é imbatível mas este céu teima em fazer-me acreditar que aqui há cores que ainda não foram inventadas.
E começo a sentir-me chegar a casa sempre que chego. Não da alma. Mas do corpo. Nada bate a delícia de dormir de janela aberta e sentir o cheiro da planície e a brisa quente de um Suão que se sabe que não é. Vou-me fazendo a isto. Criando raízes. Já falo daqui. Já me sinto de cá. E isso torna-me numa traidora sem perdão. Porque escolhi ser de Beja pouco depois de nascer em Lisboa. E vendi-me à cidade rival. É mais forte que nós: somos de onde o nosso corpo se encosta e de onde a nossa alma se prende. 
Tornei-me alentejana. Raios ma partam! Estou lixada com esta merda.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Coisas que me deixam fora de mim

"Ah e tal são os filhos quem muda as nossas vidas”. Mentira. O que muda as nossas vidas são os carrinhos de bébé! 
É aquele abrir e fechar de carrinho que enerva profundamente, porque há dias em que abre em menos de meio segundo e outros que é necessário preencher a requisição para a abertura e/ou encerramento técnico da dita cuja tomar lugar em data e local a definir pelas autoridades oficiais. 

É aquele encaixa e desencaixa no porta-bagagens que “ainda ontem entrou assim, mas porque carga d’água é que hoje não entra!?” e que só complica a vida de uma pessoa que demora mais tempo a entrar e sair do carro que a comprar uma meia dúzia de ovos no Carrefour às 10h30 da manhã, quando as filas para as caixas estão apinhadas de conversas do género:  
- Olhe, a mim hoje doem-me tanto as cruzes! 
– Que coincidência, ontem também me doíam as cruzes...e ainda doem, mas está a ver esta zona aqui, perto do pescoço, que me apanha aqui o músculo até ao pulso e ao joelho esquerdo...??? Prontos essa sim é que hoje me está a atrapalhar. Já quase nem falar consigo! 

É recordares-te a ti própria constantemente que compraste o carrinho de bébé “mais ligeiro do mercado” vencedor do prémio da melhor cena do género, pela Associação Infantil das Cenas do Género, e não conseguires explicar a ti própria aquele enorme e secreto desejo que te invade, de todas as vezes que fechas e abres o carrinho, de ir para a porta da fábrica construtora do carrinho com os cabelos desgrenhados, camisa desfraldada e suada do claro esforço físico a gritar em pulmões “ASSASSINOS! ASSASSINOS!”

É aproveitares que a criança está a dormir no carrinho, para dar um saltinho a uma livraria, perguntares à moça da livraria onde está o elevador para ires ao andar superior e ouvires “não temos elevador...mas pode deixar o carrinho ao pé da caixa e levar o bébé ao colo!”. Sorrires sarcasticamente e no teu mais profundo íntimo desejares àquele Nobel do Bom Senso uma dezena de filhos e um carrinho de marca branca comprado na PréNatal, em segunda mãe e com as juntas enferrujadas. Idiota! 

Casamentos e baptizados

Está aberta a época das festividades!!!

Venham casamentos e baptizados que a malta quer é dias passados a correr do cabeleireiro para a maquiagem e da maquiagem para cima dos saltos de 11 cm e para dentro dos vestidos que nos fazem parecer o magras que não estamos. Que não estou que de vocês não quero saber. Porque se estiverem odeio-vos, como é óbvio!

Custa-me esta mania que tenho de não repetir fatiotas nem tão pouco de ter qualquer jeiteira para as adaptar para parecerem diferentes. Isto impacta-me um disparate no bolso. Porque depois não é só da fatiota que falamos: é a farpela completa… Sapatos, meias, clutch, colares, brincos e até a porra das meias que têm de apertar a zona abdominal e as ancas para que a pessoa se assemelhe a uma pequena e fofinha sereia sem cauda. E sem grande rabo, já agora.

São horas de desassossego, de loja em loja, sempre a jurar a mim própria que não gasto mais de 25€ num vestido que ainda por cima não volto a usar. Até porque o querido do Facebook agora existe para comprovar a coisa: ahhhhhh! Ela já tinha levado aquilo ao casamento do avô e ao baptizado da prima…
E a coisa descamba sempre. O orçamento multiplica-se (obviamente nem vou dizer quanto) e o resultado nem sempre é o que se esperaria. Mas é o que se arranja. E com ele mais uma série de promessas como o famoso “nunca mais caio desta abaixo” e “estou-me a borrifar se levo uma coisa repetida para a próxima”, descambando sempre num “vou começar a fazer dieta depois desta festa”.

Acho que vou lançar aqui um apelo: podiam começar a casar e a proibir a publicação das fotos no facebook? Podiam NUNCA repetir convidados em festa nenhuma de qualquer espécie? E já agora, podiam fazer todas as festas doravante de luz apagada, mesmo às escuras?
Dava-me cá um jeitaço…




terça-feira, 16 de junho de 2015

Estilos

Pontapés nos tomates, quando esta gente veste a criançada com meias e sandálias carregadas com flores de nylon, as leggings com mini saia e o belo do tutu de ballet para a escola.
Pontapés nos tomates também para as pessoas que vestem a roupa do ALDI e vão sair à noite. Pontapés quando a minha vizinha veste o roupão e vai passear o cão…

Breve descrição de tipos de moda em Mainz:

Tipo 1. As meias com sandálias. Eu tentei por uns tempos compreender a razão para tamanha estupidez. Sem resposta imediata considerei uma teoria que poderá fazer algum sentido. Fungos! Sim, ou para esconder, ou para não os apanhar. Man, é a única explicação lógica para o facto.

Tipo 2. As miúdas pequenas com leggings e mini saias. Man, essa merda não é prática. As miúdas quando estão aflitas para mijar demoram o dobro do tempo.

Tipo 3. As leggings nas adultas. “As leggings só ficam bem às gordas”, deve estar escrito algures, mas passou-me.

Tipo 4. As camisolas brancas de alças. Aquelas de interior que o meu avô usava por debaixo da camisa, da camisola ou do casaco. Aqui os guapos usam-nas à vista de todos como se fosse uma peça de roupa de griffe.  Para complementar o kit de alças botam-lhes umas calças slim fit e uns sapatos da moda do camandro mais velho. Please moços, pedem-se no mínimo três a quatro dedos de testa.

Tipo 5. A sandália que faz aquele barulho de chinelo a chinelar. Man essa merda não se usa desde a explosão do Bing Bang. O que leva uma mulher que vai de férias para uma cidade tipo Roma, levar umas sandálias dessas? Faria sentido, caso comprasse uma caravana e fosse de férias para a Nazaré.

Aqui haverá mais tipos de modas, mas eu já começo a ficar queimada com a Merkel. Já começo a ser olhada de lado quando saio à rua no meu singelo estilo Boho, ou até quando estou em dias bons, Minimal Chic.


Próximo post, vou falar bem desta merda. Juro!

(as fotos são do meu arquivo pessoal intitulado Estilos&Vómitos)








segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ana, Évora

“A fofoca consiste no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia” (via wikipédia)
Esta coisa de ter filhos e dos nossos filhos terem férias quando nós não temos é levada da breca. Incomoda-me, chateia-me, aborrece-me de morte saltar da cama e deixar lá os meus filhos, quentinhos, enrolados nos lençóis a dormir até ao meio dia enquanto eu tenho de ir, pesarosamente, trabalhar.
Não devia ser permitido. Aos pais devia ser imposto que acompanhassem as crianças nestes seus momentos de interrupção lectiva.
Temo que os meus filhos fiquem com recalques emocionais graves e me crucifiquem, daqui a uns anos, dizendo que todos os seus males e euros gastos em psicólogos e psiquiatras se devam ao facto de não ter estado presente em todos os seus períodos de férias.
E vão ter razão.
Que raio de mãe sou eu que não fica em casa para lhes fazer o pequeno-almoço e para os levar ao parque logo de manhã? Que não fica em casa para ir andar de bicicleta com eles mesmo que seja a coisa que mais detesto fazer?
Sinto-me uma bandida. E a culpa é desta sociedade horrorosa que nos obriga a afastar-nos dos nossos mais que tudo em troca de euros no final do mês.
Assim sendo, sou da opinião que devíamos movimentar-nos e preparar uma Petição Pública que obrigasse as mães a ter períodos de férias exatamente iguais aos dos seus filhos.
Só assim poderíamos acompanhar as nossas crianças nas idas à praia e zelar pela sua segurança. Ou à piscina. Ou na ida ao jardim para comer um gelado. Ou ao final da tarde para beber uma imperial e comer caracóis. Não bebem imperial? Não bebem eles mas bebem os pais que bem merecem que isto de tratar dos filhos não é tarefa fácil.
Mas não! Aqui estou eu, na labuta, enquanto os meus filhos estão sem mim, tristes, pesarosos, a ver desenhos animados, com uma taça de estrelitas no colo, sem se lembrarem sequer que eu existo.
Não acho justo. Não quero que seja justo. Preciso de três meses de férias a contar de hoje, fazendo favor.
Achavam que ia escrever sobre a maledicência que impera nesta cidade? Ainda não é hoje. Mas lá chegarei. E nesse dia… Ai ninaaaaaa!



Spaghetti alla Carbonara (o à séria)

Com que então natas na Carbonara? Ainda bem que eu falei nisto, sabe-se lá quantas mais décadas de carbonaras falsas vocês íam levar. Eu disponibilizei-me para ajudar e houve logo quem apitasse. Por isso e a pedido de várias famílias aqui estou eu para vos dar “La vera Carbonara”. Não temais! 
Antes de vos dar a receita deixo duas notinhas de rodapé: 1) se com natas era boa, sem natas é melhor 2) lamento, mas não é por falta de natas que engorda menos. 
Ora, vamos ao que interessa. 

Spaghetti alla Carbonara 

Dose para 4 pessoas/4 porções 
350 a 400gr de spaghetti (dica 5 estrelas – ao comprar o spaghetti escolham sempre a pasta com aspecto mais esbranquiçada, enfarinhada e também a mais rugosa, pois significa que irá absorver melhor o molho) 
150 gr de Guanciale (pode ser susbtituido por toucinho) 
100 gr de Pecorino ralado (pode ser susbstituido por queijo parmesão – se ralarem ao invés de comprarem já ralado de pacote ainda melhor) 
Pimenta q.b. 
4 gemas de ovo 
1 ovo inteiro 

Deixar ferver numa panela uma abundante quantidade de água com uma pitadinha de sal. 
No entretanto, colocar numa frigideira sem gordura o guanciale cortado aos quadradinhos. 
Retirar do lume quando a gordura do toucinho estiver liquefeita e o toucinho ligeiramente crocante. Numa taça bater as quarto gemas, o ovo e juntar o pecorino ralado. 
Adicionar a pimenta e bater até obter uma consistência homogénea. Colocar a pasta na água a ferver respeitando criteriosamente o tempo de cozedura indicado no pacote. Seguramente irão obter uma pasta al dente! 
Adicionar o toucinho à mistura dos ovos/queijo na taça e, quando pronto, juntar directamente o spaghetti sem passá-lo por água fria. 
Envolver o spaghetti ao molho adicionando 1 colher de sopa de água que coseu a pasta. 
A Carbonara deve ser servida imediatamente. Adicionem pimenta e pecorino a gosto. 

Riam-se às bandas despregadas dos que ainda comem Carbonara com natas! E cebola!! E cogumelos!!!

falar do tempo

Sou proprietária de um feitiozinho especial que às vezes me faz ferver em pouca água, pelo que já li alguns livros de auto-ajuda para perceber como acalmar os nervos. Aprendi inclusivamente a praticar meditação, o que surte efeitos, devo dizer.
Agora, fora de merdas, há coisas que não há karma alinhado que nos salve. Uma delas é viver num clima tropical. Não vou falar das baratas e do resto da bicharia que por aí anda que nem vale a pena. Passemos à frente para as coisinhas quotidianas que causam mesmo transtorno à bruta, como quando saímos do duche e se o ar condicionado não estiver ligado, mais vale voltar pra debaixo do jacto de água gelada e começar de novo. Passamos o tempo com a pele num misto de luzidia e suadona.

Vamos tornar a coisa mais interessante e juntar poluição à equação. Saímos à rua e dá ideia que andámos a rebolar em mel com pó, daquele fininho, que se entranha nas pontas dos dedos e que se nos dá a comichão num olho, tá tudo lixado. Os eczemas na pele é vê-los multiplicarem-se. Rinites alérgicas e asmas, é um tirinho. Escusado será dizer que assim que se regressa a casa, vai mais uma ducha básica pra tirar isto tudo de cima: são aos 3 duches nos dias de maior movimento.


Mas eu com isto até vivo bem. O que me continua a fazer provocar aquele tique nervoso no olho é quando, depois de chegar a casa duma sessão de retail therapy, como dona de casa prendada que sou, ponho a roupinha de molho, enxaguo, levo 3 quartos de hora a pendurá-la toda bem presa com molas nos cabides e a estendo à boa moda asiática num varão lá fora... e eis que desata a chover torrencialmente em segundos e sem pré-aviso. Mas nem chove durante uma hora, que seria o mínimo para justificar a estupidez da coisa - chove ali uns 15 minutinhos. Só mesmo o suficiente para a pessoa dar uma de Flash, tirar a roupa do varão em dois tempos e voltar a pendurá-la já em casa com o desumidificador no máximo.
Este tipo de clima também gosta de sapatear na nossa cara quando saímos de t-shirt branca ou sabrinas e sem guarda-chuva, por exemplo. E depois pára. E pode parar durante dias, semanas. Mas também pode voltar em matéria de horas ou minutos, depende. Depende do que lhe apetecer a ele, ao clima tropical, que tem vida muito própria.


Tudo isto enrija, dá carácter. Bem vistas as coisas, isto é tudo muito positivo. O meu conselho, se vierem viver para um destino com clima tropical, é: metam-se no yoga ;)


Os pastéis de bacalhau napolitanos

Quando o tempo começa a aquecer a Casa Alfonso - um restaurante napolitano muito jeitoso do qual eu sou megafã – faz o “Aperimondo”, uma espécie de cocktail dedicado a todas as cozinhas do mundo. Há umas semanas calhou a cozinha portuguesa e obviamente como enfardadora oficial nacional fui lá meter o bedelho com o objectivo claro de mandar postas de pescada. 
A mesa não estava mal de todo: bacalhau à brás, jardineira de carne, bacalhau à gomes de sá, sopa de legumes e uns rolinhos que pareciam ser pastéis de bacalhau. Experimentei tudinho, alguns pratos até repeti para ter a certeza do meu juízo, e tendo em conta que a experiência de cozinha portuguesa do Chef era pouco acima de zero, posso garantir-vos que, à parte da jardineira, a ementa estava uma bela bosta. Não era a melhor amostra da cozinha portuguesa mas como o que conta é a intenção, não levei a peito, assim como assim, isto era apenas uma ementa inspirada nos sabores portugueses. 
Quando estava a deixar o restaurante, o Chef, que me conhece e sabe que sou portuguesa, veio ter comigo: - Então que tal? Gostaste, Isabel? Os pastéis de bacalhau? Estavam uma delícia, não estavam? A receita é de um livro de receitas português. Ali na mesa estão os pastéis de bacalhau genuínos! 
PÁRA TUDO! Pastéis feitos com água de cozer o bacalhau, textura puré, cobertos de pão ralado e sem salsa!? MAS DESDE QUANDO É QUE ESTA MERDA É UM PASTEL DE BACALHAU GENUÍNO, C#&$*&=*?!?! Era assim que eu devia ter gritado na cara do Chef, perdigotos e cabeçada à Cais do Sodré incluídos, mas ao invés num tom de voz doce respondi “eu ensino-te a fazer os verdadeiros pastéis de bacalhau. Não te preocupes.” 
Bom, este episódio fez-me reflectir na quantidade de restaurantes em Lisboa e Linha de Cascais que à boca cheia se intitulam guardiões da “verdadeira cozinha italiana”, mestres das “sabores italianos”, incansáveis defensores das “receitas italianas genuínas”. Tudo banha de cobra, meus amigos! Não significa que não cozinhem bem ou os pratos que apresentam não seja bons, apenas vendem “receitas genuínas” como quem vende gato por lebre. Tá mal! 
O expoente máximo desta inexatidão culinária italiana em Lisboa é o Spaghetti alla Carbonara. É provável que isto seja uma novidade para muitos de vós, mas a Carbonara NÃO LEVA NATAS! Pois é. Estão a sentir-se enganados, não estão?!? E se eu ainda vos disser que para além das natas e Carbonara também não leva cebola???? É o choque! Pois é, meus amigos, eu sei que neste momento há um vazio dentro de vós, sentem-se enganados, traídos e que nunca mais irão puder confiar em nenhum restaurante italiano em Lisboa. Eu sei. Mas alguém teria de vos defender das natas da ignorância e fazer-vos entender que não nos pudemos queixar do sacrilégio de haver alguém a panar os “verdadeiros” pastéis de bacalhau enquanto preparamos o refogado para a Carbonara “ficar mais apuradinha”. 
Por isso quem quiser a receita de Spaghetti alla Carbonara genuíno é só pedir. Longe de mim ver-vos pra'aí no sofrimento de viver na ignorância de nunca ter comido uma Carbonara. Credo. Ninguém merece um castigo desses!


sábado, 13 de junho de 2015

Bita, Mainz

Ser ou não ser simpática na Alemanha, eis a questão.

Entrei no autocarro estava cheio até ao nó. Em pé estava um senhor coxo de muleta. Fora do peso, enorme, para lá de imensamente grande.
Durante a entrada de outras pessoas que procuram desvairadamente por um lugar já ocupado por mim, vejo que o senhor coxo continuava de pé.
É óbvio que só para variar ninguém cedeu o lugar. Pategos do costume!
Eu simpática, a lady do costume, perguntei ao senhor fora do peso se queria ocupar o meu lugar visto estar coxo e fora do peso.
Ele respondeu não, agradeceu-me com um sorriso simpático, diria até amoroso.

Paragem seguinte, o senhor que estava ao meu lado saiu e assim ficou um lugar vago ao meu lado, onde imediatamente se sentou o senhor fora de formato e coxo. E pronto. Fooodi-me! 
O gajo fora de formato e coxo para além de fazer conversa de chacha, pregou-me uma seca do tamanho dele, lançou charme (WTF?!?) e ainda se pôs a tricotar à minha conta, perguntando-me com a moral do Al Pacino e de olhinho picolho, o que ía EU fazer no fim-de-semana? Oi?

Conclusão: eu fui, porque sei que fui, muito amável em perguntar se o fora de formato coxo queria o meu lugar visto estar coxo e aquela besta aproveitou-se da minha bondade cândida e foi consumir o meu já baixo nível de paciência para aturar esta imensa cambada de retardados emocionais cinzentões filhos de uma mãe mal parida!

A pessoa quer ser elegante (porque já o é de pequenina) e educada (porque já o era mesmo antes de nascer) e vê-se obrigada a engordar e ser burra de antipática só para que nenhum destes energúmenos se metam.

É na marra que aprendo que aqui neste buraco não podes ser simpática para nenhum homem!



(Gordo, coxo, piscar olho….catano esta merda vai-me dar pesadelos por um mês.)


Vera, Melbourne

A ideia de ter um blog começou quando fui viver para Timor-Leste, achei que seria uma forma gira de ir partilhando as minhas aventuras com os meus amigos. Rapidamente me apercebi que o timing não era o certo. Diz que dá jeito ter electricidade para isto de ser blogger.  Naquela altura, no local onde vivia, na melhor das hipóteses só havia electricidade umas horas por dia, se houvesse.  Já para não falar de internet,  ainda me lembro de pagar uma hora de internet e estar essa hora a desesperar  à espera que o e-mail abrisse e nem em html aquilo abria. Entretanto a vida foi passando e apesar de cada vez sentir mais necessidade de escrever em Português, achava que não tinha a disciplina necessária para manter um blog,  achava que não escrevia muito bem, achava que seria uma seca e que até os meus amigos por mais que eu os obrigasse não iriam ler. Tive cagufa, é o que é. De um momento para o outro, recebo uma mensagem a dizer Olá meninas! Uma destas minhas amigas que vocês já conhecem daqui veio com a ideia de criar um blog. Cada uma a seu tempo, lá aceitámos todas o desafio e a coisa deu-se em menos de 24 horas. Meus amigos as coisas incriveis que aqui já leram foram escritas em pouco mais de 24 horas, imaginem só o que ainda temos para partilhar...

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O Quinto Elemento

Os chineses não vão à bola com o número 4. Nós aqui também não. Porquê? Porque sim! A ideia deste blogue arrancou com cinco elementos, mas a diferença horária e os requisitos internacionais da agenda desta nossa amiga trocaram-nos as voltas. Se não fosse o quinto elemento do Jet Lag ter aceite juntar-se ao bando, as Jet Laggers continuariam a escrever-se com um "g", como a cerveja. O que para o caso também não destoa muito da realidade, mas isso são outros canecos. O que interessa é que agora que temos dois g's no Laggers e o quinto elemento para nos meter na ordem, estamos safas de incorrecções linguísticas!


Sou a Teresa, tenho 31 anos e deixei a extensa planície do Alentejo por uma miopia e um problema de humidade em Macau. As boas notícias são que há cá vinho decente! E que no meio da valente confusão que é esta terra, isto até é encantador. E vá, que após anos de vida de solteira com direito a gato e tudo, lá o amor me encontrou. As más noticias são que uma ida a Portugal me custa 2 semanas de jet lag e uma pilha de guita. Isso, uma data de rinites que me fizeram livrar do gato, e continuo sem dominar a shelf life das bananas neste clima. Como emigrante que se preze, iniciei recentemente a plantação dum hortejo em casa e o meu frigorífico está recheado de víveres Portugueses. Sou semi boss na cozinha, na modalidade do improviso artístico. Estudei 6 línguas, das quais 2 mal arranho e 4 misturo no dia-a-dia, muitas vezes na mesma frase. Possuo um naperon, mas nenhum cão de louça. Da minha viagem anual a Portugal trago sempre enchidos que me ocupam espaço no frigorífico durante o ano inteiro. Frequento as romarias Portuguesas quando as há cá, chego a fazer-me de interessada pela bola e choro por amor a isto tudo. Mas abomino a palavra "tuga" e todas as suas variantes e aflige-me malta que dá erros e que vilipendia da pontuação. As notícias, em especial de Portugal, são a minha novela das 9. E enfim, após décadas de pesquisa aprofundada venho constatar o que já se sabia: a felicidade reside em nós, nos simples detalhes, e em entrar no Pingo Doce depois de um ano fora de Portugal. Fazendo minhas as palavras do outro senhor: "se não contarmos com os ataques de nervos, isto nem tem corrido pior”.