Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Natal

Aquela sensação de que é Natal começa com o frio a instalar-se, os dias a ficarem cada vez mais pequenos, os anúncios na televisão e as luzes... Oh, as luzes da Natal, nada melhor para nos incutir de espirito natalicio. Ok, as decorações de Natal são regra geral prematuras e acompanhadas por estridente música de Natal. Mas enfim tudo isso nos lembra que é Natal e quem passa esta época longe de casa não só se lembra como até sente falta de todos estes pequenos nadas.

Vou passar o meu segundo Natal na Austrália, honestamente custa-me bastante passar o Natal fora de casa, mas a parte boa é que aqui não me lembro que é Natal até para aí umas 24 horas antes. Aqui o Natal é sinónimo de férias de Verão, de praia, de BBQ e para quase toda a gente é o inicio de umas férias que duram até meados de Janeiro. Desde quando é que cabe na cabeça de alguém um Natal assim, passado na praia?? Ainda bem!! Já que é para estar longe de casa ao menos que o faça a curtir o Verão!

Bom, são 17:00 e estão 36ºC vou só dar mais um megulhinho antes da “Ceia” de Natal que vai ser muito bem passada com os meus amigos e vai haver bacalhau e tudo, os que não são Portugueses que nem se atrevam a reclamar! Temos pena.

Feliz Natal para todos e um GRANDA 2016!!!!!
Vai correr tudo beeemmm ;)



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Dezembro, esse mês maravilha.

Bem, é Dezembro em todo o lado. Em Melbourne, em Wiesbaden, em Nápoles, em Macau e em Évora.
Odeio o mês de Dezembro. Odeio. A sério. Apesar de adorar tudo quanto significa bem como tudo o que se celebra. 
A cena é que se celebra tanta coisa que eu dou por mim em stress constante sem saber para onde me voltar. Adorava viver esta época de uma forma cândida e serena, absorvendo a paz que é suposto inundar-nos. O Menino nasceu. Verdade. E o meu filho também. E vai ser o baptizado do meu sobrinho. E os anos do meu amigo/irmão César. E as festas da Salvada. E o Natal em Beja e o Natal em Évora. E, no meio disto tudo, a preparação da passagem de ano. Que a pessoa tende pensar nisso.
Claro que nos entretantos, há as festas de Natal do colégio. E a respectiva montagem associada. E os testes de final de período. E a compra das 92737382020 prendas que jurei que não comprava este ano mas que, afinal, não compro para o ano.
De repente, tento enfiar umas roupas encarnadas e percebo que ainda não emagreci desde o Natal passado. E que estou lixada. O que me vale é que vai dar "O Sozinho em Casa" números 1,2,3,4,5,6,7 And so on e eu vou gritar de desespero e aí perco 3 calorias.
Ahhhhh, mas há laços de mel da minha madrinha e pêras bebedas da minha mãe e tarte de amêndoa receita da avó Cristina. Isso salva tudo.
Tudo menos a minha conta bancária que, entretanto, flipou e foi com os meus cartões de multibanco com o pai natal no comboio ao circo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Chegou Dezembro

Prontos. Ainda ontem estávamos em Agosto de papo para o ar a apanhar um escaldão e agora eis que já é Dezembro. E nós vamos ter de falar sobre isto, dê lá por onde der, porque é Natal e em Dezembro é apenas do Natal que se fala.
Que o Natal se desvirtuou, passando de uma celebração religiosa a um período de ferocidade consumista, já todos sabemos. Se, porventura, embarcamos no teatro, isso já é um problema pessoal e instransmíssivel. Eu fiz a minha escolha. Nos dias que correm o meu Natal resume-se muito simplesmente a uma coisa e uma coisa apenas: comer! Tudo o resto são "fait divers".
Comecemos então pel'Àrvore de Natal, esse símbolo incontornável do espírito natalício. Só de pensar que tenho de fazer a Àrvore de Natal stressam-me os caracóis do cabelo. Fico doente das ideias só de me ver no meio daquela confusão de bolas, estrelinhas, fitinhas e merdinhas que à força terão de se unir com um senso criativo para o qual eu já não tenho a mínima das inspirações desde 1997. 
Por falar em decorações, falemos das luzinhas que todos os anos compro nos chineses, porque habitualmente (e vai-se lá saber porquê) se fundem, mesmo quando devidamente acondicionadas e fechadas durante 11 meses numa caixa na arrecadação. Vai-se lá perceber.
Ainda na minha curta e hedionda lista de cenas a fazer em Dezembro lugar de destaque para os presentes de Natal. É sem qualquer pudor que afirmo e sublinho mesmo antes de afirmar: ODEIO ESSA MERDA DOS PRESENTES DE NATAL! Puxar pela cabeça sobre o que oferecer a fulano e a sicrano enquanto se tenta sobreviver numa tempestade de gente nas ruas ou (pior) nos centros comerciais enquanto a Mariah Carey guincha o "All I want for X'mas is YOOOOOUUUUYYYYOOOOUUUUUUYYYYOOOOUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU" nos alto-falantes é uma tarefa hercúlea. A coisa até podia amenizar quando fosse hora de abrir os presentes que recebo, mas convenhamos, a minha existência continuaria a ser estupenda mesmo sem aquele par de chinelos em tecido polar, ou sem aquele gel de banho com pedaços de azeitonas dos himalaias ou até sem aquela toalha de mãos com o pai natal bordado. É pena, mas dou sempre por mim a pensar no desperdício de papel de embrulho. 
"Ah e tal, mas agora és mãe e com as crianças o natal é bem melhor" dizem-me. Pois tábem, abelha!
Não me lixem. Eu dispensava toda esta palhaçada, reduzia o Natal à mesa do dia 25 e a todas as várias mesas que lhe antecedem, porque em Dezembro o que interessa mesmo é estar sentado à mesa a comer e a beber com os amigos e com a família. 
Quando se é emigrante o cenário "mesa de Natal" assume nova e maior importância porque é habitualmente sinónimo de regresso a casa ou de ficar em casa longe da nossa "casa" ou até um "porra, que são tantas as saudades de casa". Em casa ou longe dela, sejam emigrantes ou não, desejo do fundo do coração que se empanturrem não apenas na quadra natalícia, mas em todo o mês de Dezembro. Desejo-vos mesas a abarrotar de azevias, fatias douradas e bolo-rei, bacalhau com todos ou só com natas e 31 perús recheados, um por cada noite de Dezembro. Pois se é para ser um período consumista, então que se consuma à grande toda e cada garrafinha de vinho até à última gota!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Fonix, renascer das cinzas

Levamos chapadas da vida a toda a hora, ms há alturas que são tão fortes que nos abalam o sistema nervoso e provocam um tsunami tão devastador que nos faz fazer um reset à vida.
Nos meus 33 anos, a vida já me ensinou que tenho de alterar padrões para poder seguir em frente e romper com hábitos inconscientes e podres, mas insisto em levar as chapadas. Parece que sou teimosa. O último tsunami está a dar-me pano para mangas, lose the game its always a shit, mas quero ter a certeza que me fará crescer, evoluir e não voltar a cair na mesma esparrela, consciente sempre que tudo tem uma causa e um efeito. E "fuck" menos o próximo é um lema de vida!
Aprendi com a emigrantice a deixar os bens materiais não tomarem conta de mim, deixei casa, carro, família e amigos por algo que anteriormente tinha a certeza que iria funcionar, hoje tenho a certeza que poderia ter funcionado melhor caso eu, tivesse mais atenta aos sinais negativos. O fuck da questão é sempre esse: os sinais.
Por agora, aqui na emigrólandia consegui nova vida, novo trabalho, nova casa, novos amigos e nova cidade. Renasci e sinto que tenho em mim toda a força necessária para continuar, só preciso de mais uma coisa: tempo.
É fácil estar sozinha aqui? Sim é, basta concentrares-te nos teus objectivos e elevares a racionalidade ao ponto extremo mais alto do vulcão. A força que há em nós e a corrente que nos liga às pessoas é muito mais forte que uma desilusão ou perda. Agora tenho a certeza que gosto disto!
Aprendo todos os dias, que afinal não sou assim tão hiperactiva, só preciso de fechar os olhos e ver a calma escondida em mim. Que posso viver sem comer carne e que o chocolate afinal não me faz borbulhas. Voltar a sorrir depois de chorar, voltar a comer depois do jejum, são tudo fases e deveremos ter sempre consciência que o nosso corpo reflecte a nossa alma, se não cuidarmos dele quem cuidará? Já dizia a grossa do leite Matinal.
33. Capicua, sempre quis dizer alguma coisa, ano de mudanca, ano que renasci.
Estou feliz, mas há uma coisa que nunca muda, a minha Mãe continua a ter poder sobre mim...!

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

FYI, Melbourne Cup

Imaginem um fim de noite num festival de música, ou melhor quando já começa a nascer o dia e há milhares de pessoas a fugir cada uma para o seu buraco como se houvesse o risco de que o primeiro raio de sol os pudesse transformar em pó, como aparentemente acontece aos vampiros. Toda aquela desordem e lixeira que fica para trás, aquele desespero em encontrar uns óculos de sol, aquele misto entre vamos só beber mais uma e só queria era bater os sapatinhos de rubi um no outro e aparecer milagrosamente em casa.
Agora imaginem o casamento de um dos vossos melhores amigos, estiveram a beber e a comer durante horas a fio, os collants já estão rasgado pelo menos em três sitios, a maquilhagem totalmente esborratada e os sapatos, os casacos e as gravatas já foram perdidos há muito... Estão a imaginar ambos os cenários? Ora bem a Melbourne Cup é uma mistura dos dois!
Vamos a números, a corrida principal dura 3 minutos, ocorre às 3 da tarde, vão cerca de 100 mil pessoas assistir e o Melbourne Cup Day é sempre na primeira terça feira de Novembro, que só por acaso no estado de Victoria é feriado, traduzindo batido de atum para toda a gente, isto é como quem diz “mete-se” a segunda-feira e toma lá um fim de semana grande!!!! Quem não quer saber das corridas (tipo eu) aproveita para fugir da cidade e os que ficam preparam-se para 4 dias embriagados!
Os homens vão de fato, fácil não é. As mullheres vão de vestido curto e com uma porra na cabeça que se chama “fascinator”, ver as fotos dos vestidos é tipo ver as fotos dos Globos de Ouro em Portugal, não são vestidos de gala mas é o mais fashion que há por aqui. Há pessoas que vão para as Marquees mas a sua larga maioria vão mesmo com uma geleira atrás carregadinha de comes e bebes para o picnic. Fino, não é? Lá se passa o dia a comer e a beber, enfâse no beber, enquanto se fazem apostas nos cavalos.
Quando acabam as corridas, começa o verdadeiro espectáculo! Milhares de pessoas arrastam-se dolorosamente a sair do recinto, mais uma vez a lembrar as séries dos zombies, porque não aguentam os sapatos ou porque pura e simplesmente não conseguem andar. Se por acaso tiver chovido, melhor ainda porque vem tudo cheio de lama até ao joelho. Há muitos que ficam esquecidos pelos amigos a dormir tranquilamente qual bela adormecida. Há os que vomitam num qualquer canto que esteja ali mais à mão e há uns quantos a trocar saliva com o novo amor da sua vida, que conheceram há mais ou menos 5 minutos. É algo digno de se ver, espero que as fotografias que se encontram online o ilustrem porque eu não encontro mais palavras. Nem sei que mais dizer, só queria mesmo que vissem...
Camisolas amarelas deste ano foram uma senhora que resolveu atirar com um policia ao chão e outra que resolveu despir-se à frente de toda a gente, vá vão lá à procura dos vídeos.
Algo fixe a destacar, mas mesmo muito fixe foi que este ano pela primeira vez na história da Melbourne Cup ganhou uma mulher e sabem o que ela disse aos que não queriam que ela sequer entrasse na corrida “You all get stuffed”.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Chegou, bolas!

Até que enfim que chegou o Inverno. Sim, eu sei. Só depois do equinócio mas importam-se que eu me sinta já no Inverno? Agradecida.
Toda eu sou do sol e do calor. Da praia e das esplanadas mas... o frio e o ar cinzento dos dias faz-me sentir em casa. Conforto. É isso: sinto conforto no frio da rua que antecipa o quente da minha casa. E nos dias curtos que me cheiram sempre a Natal. No fundo, vivo o espírito natalício todo o tempo que dura o tempo dos dias frios.
E viver o Inverno em Évora é cá mais bom... É verdadeiramente diferente de o viver em Lisboa.
Só para quando cá vim viver é que comprei o primeiro casaco de abafo.
Estou sem inspiração nenhuma. A verdade é essa. Não por falta de tema. Até tenho de sobra. Coloca-se-me é sempre o dilema de o passar ao papel e depois ser cruxificada em praça pública. Hoje até me apetecia mesmo falar sobre uma cena que me aconteceu há uns dias. Ou horas. Que tem a ver com a falta de dignidade e integridade do ser humano.
As pessoas lidam mal coma rejeição. Com o desapego dos outros. Não estou a falar de perda da morte. Da perda no jogo das relações humanas.
Não é fácil assumir a derrota. Porque, no fundo, acabamos por encarar os finais infelizes como derrotas. Seja porque se perdeu o emprego, se chumbou no exame, se perdeu a carteira, se o projecto não foi aprovado, se o crédito foi rejeitado ou se o gajo nos deu a tampa.
A grande diferença entre as pessoas vê-se na maneira de lidar com isso. Independentemente da causa. Não interessa se o projecto foi chumbado por ser uma merda ou se foi pelo facto do gajo da outra empresa concorrente andar a papar a tipa que faz a selecção. A maneira como encaramos isso é que faz de nós pessoas diferentes.
Tenho um amigo que me disse um dia que se a mulher dele o deixasse que se enfiava em casa uma semana, curtia a ressaca e depois levantava a vida em braços e ia à luta.
Conheço outro que, caso seja despedido, parte os dentes todos do patrão durante duas décadas.
Gosto de ambas as abordagens. São frontais (se acharmos que o tipo vai partir os dentes da frente do patrão) e são pessoais. São de autor. E são feitas às claras. E eu gosto de pessoas às claras. Sabemos o que dali se espera.
Mil vezes estas àquelas que se escondem e dissimulam e andam, por vezes anos, a acalentar e a mimar uma vingança doente e retardada.
Pensar nisto leva-me a pensar na quantidade de gente que está presa a coisas, sítios e pessoas com medo das consequências. Não da vida. Mas de ser vítima da maldade dos outros.
Mesquinhez. Detesto gente mesquinha.
Bem, não era isto assim tão soft que me apetecia dizer mas é o que pode ser.
Resumo da coisa: vou vestir o abafo e comprar castanhas. Fui.

sábado, 24 de outubro de 2015

Eu sei lá se são os cheneses ou o cuarago manina!!!

Vivo atormentada por um bicho chamado ciência política, económica e social portuguesa.
Sou emigrante, mas como disse um dia a minha amiga Isabel da Rocha, vais passar por vários estágios na tua vida de emigrante e, verdade seja dita e confirmada, não é que a Guru das emigrantices tem toda a razão, passo a explicar:
Primeira sensação quando saímos do nosso país é que tudo é shit, tudo é mau, todos os serviços e funcionários públicos são lentos, que tudo corre mal. Passas as férias a contar peripécias engraçadas, como as meias com sandálias ou os texugos debaixo dos braços que encontras numa viagem de Bus. Quando conheces os locais, quase que os obrigas a visitar os site do Turismo de Portugal, porque lá é que existem as melhores praias da Europa. 
Passando esta fase que dura mais ou menos 1 ano, começamos a pensar que as coisas não são assim tão más e que começas a defender algumas coisas que se fazem em Portugal. Após esta percepção de realidade patriota, começamos então por esta ordem, o período de saudade. Saudade de tudo o que nos fazia feliz, porque todo o resto é uma bela merdinha e continuará a ser, os salários baixos, as portuguesinhas mal educadas e revoltadas, as famílias sem um tostão, etc. 
Quando vamos de férias comemos que nem uma vacas, porque o que nos faz realmente falta é o pastelinho de bacalhau frito num óleo rançoso, numa tasca mal lavada e com cheiro a casa de banho encharcada de Sonasol ou até em muitos casos lixívia do frasco amarelo. 
Pensamos que aquela terra já não nos pertence e uma vez fora dela, nunca mais serás o mesmo, porque não interessa para onde emigraste, o português terá sempre a noção que a casa da mãe será sempre o porto seguro para alguma eventualidade no percurso. Casa que é nossa, mas no momento está emprestado ao irmão mais velho. Portanto as viagens de férias que no meu caso até são recorrentes, começam a fazer uma certa comichão ao português residente no país – Então mas tens assim tantas férias (e dinheiro??) sim porque vamos de avião, Ryanair mas avião!!! 
No segundo ano de emigrante, quase tudo no país de acolhimento começa a fazer alguma comichão, é a sandália de plástico, é o sovaco da outra, é o email que não chegou, porque aqui também há gente incompetente, é a vizinha que fritou salsichas, #euseilásesãooschinesesouocuarlhomanina. 
Há uma fase importante, esta a Isabel ensinou-me como descartar, (Alemã sinistra, conhecida): Olha Bita estou a pensar ir de férias a Portugal!!! Podes me aconselhar algo? Bita: Olha que bom! Sim sim eu depois envio-te um e-mail!!! Eu quero é que tu vás pó alhinho mais velho e vai procurar à Internet. Talvez se me tivesses apanhado no primeiro ano de emigrante, safafas-te com e-mail e sítio baratos, agora mando-te pá Comporta que até de fo#$#!!! Opá tenho lá eu agora tempo para procurar sítios para visitar em Portugal, sou alguma Viagens Abreu???
Começo do terceiro ano, ainda não sei o que me espera, mas ainda gosto de cá andar, o inverno faz-me bem, porque sempre posso meter o gorro e passar por alemã. Não tenho de conviver em sociedade porque está um frio do camandro e a minha casa é bem quentinha, digamos que hibernação até ao Natal, altura que vou a Portugal à terra comer um pastel de bacalhau na tasca da Javardona.



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Jogo da Bola

Quando não há Benfica a aquecer-me a alma, há o Napoli a aquecer-me as entranhas. A principio foi difícil habituar-me ao azul, mas o tom celeste lá acabou por intervir divinamente. Milagre! 
Domingo passado foi bonito ver a Fiorentina, em casa napolitana, levar um jeitoso 2-1 nas orelhas. O Paulo Sousa é certamente um fofinho, mas patriotismos no futebol só quando joga a selecção nacional. Até lá, contra o Napoli, é arrear quem vier! Enquanto via o Napoli a brilhar dei por mim a pensar no jogo do Mundial de Rugby do dia anterior entre All-Blacks e França. Fazer as habituais comparações entre as duas modalidades sobre fair-play de jogadores, àrbitros e público, é parlapié de pseudo-entendidos-amantes-da-matéria. É gastar latim, quando valores mais altos se “alevantam”
Urge comparar o que é verdadeiramente essencial: os calções dos jogadores. Pela vossa e pela minha saúde vistam um par de calças aos futebolistas de uma vez por todas porque aquela merda é uma afronta à palavra “calção”. A particularidade dos calções é serem curtos. SE NÃO SÃO CURTOS NÃO SÃO CALÇÕES! 
Os anos passam e aquela porcaria que os futebolistas vestem fica progressivamente mais longa. E não bastavam os calções estarem mais longos, a merda das meias também tinham de subir até à coxa. Não tarda levam um cinto de ligas para as segurar. 
P´LO AMOR DA SANTA! Os senhores da FIFA que se sentem a ver um jogo de Rugby (ainda faltam uns joguitos para terminar o Mundial) e atentem no comprimento dos calções dos jogadores – e até do àrbitro! Não sei se é uma questão de decoro ou uma questão de precaução para os meninos não apanharem frio nas coxas e não se constiparem, se os senhores do marketing fazem intenção de projectar publicidade nos calções dos jogadores como se fossem ecrãs televisivos ou se é uma espécie de greve inventada pelo sindicato dos jogadores de futebol, mas que estão a fazer figura de palhaços, lá isso estão. 
Salvo raras excepções, os futebolistas são rapazinhos de físicos tonificados, sempre interessantes e harmoniosos à vista enquanto alguns jogadores de rugby parecem carros de bois com coxas do diâmetro da rotunda do Marquês do Pombal e massa adiposa que dava para uma família inteira. Então porque raio é que os jogadores de rugby vestem t-shirts cada vez mais justas e calções mais curtos e os futebolistas se disfarçam de sacas de batatas?!? Mas que credibilidade, perante o público feminino, é que podem ter 11 gajos vestidos com roupa cinco números acima? Mas aquilo é alguma festa de pijama? Ainda querem vocês que as mulheres sigam o futebol de forma mais interessada. Eh pá,  experimentem vestir-se como deve ser e pode ser que descubram a pólvora! 
Chegou-se a um tal exagero de decoro que de cada vez que se vê um futebolista lesionado em campo e o médico que o assiste permite antever um pouco mais do seu físico, parece o início de um show de strip-tease tal não é o cúmulo a que se chegou. Só falta lançarmos uns assobios sonoros ao ar e gritar “Tira! Tira! Tira!”
Que os jogadores da NBA (e todos os outros que os tentam imitar) usem calções tamanho FONIXQUÉSGRANDECOMÓRAIOXXXXXXXXXXXXL é um problema deles, pois assim como assim à hora a que normalmente dão os jogos da NBA tanto faz jogarem de pelota ou de escafandro mas os senhores da Bola bem que podiam rever os equipamentos. 
Já não bastava chamar tecido técnico àquela viscose brilhante de qualidade altamente duvidosa.

domingo, 18 de outubro de 2015

IPhodace estou sem IPhone!

Viver num estrangeiro com frio, não me mete medo. Viver num estrangeiro sem IPhone, aí a coisa pega mal!!! 

A caminho de um compromisso importante o meu querido e utilitário IPhone deu-lhe o IPhodace e morreu, digamos que não stressei muito porque pensei que fosse a bateria (ah! Em casa carrego esta cena, não vou já stressar e tal e coisa), mas o cabresto chegou a casa e não ligou. Como que se de um AVC se tratasse automaticamente ligámos para o tinóni Apple.

Conclusão, sem demoras e no prazo de menos de 10 dias tenho aquele instrumento de trabalho, lazer e sanidade de volta ao aconchego da minha mala cheia de papéis de chocolate e bilhetes de Bus. Não é fácil saber e comprovar que se vive dependente de uma merda que pesa menos de 300 gramas e tem uma Siri. Mas o que me provoca stress e tristeza é como vou comunicar com as minhas amigas? A minha mãe? 

Aproveitando esta cena, vou tentar mudar de vida.

Dar valor às mãos que Deus me deu e continuar o trabalho, ver TV alemã e, adormecer com os sons do prédio, a vizinha tossir ou aquele espirro profundo que estremece os pilares. Ver que existe vida no Bus, ver que existem pessoas bem vestidas aqui, que afinal há vida para além de uma conexão de WIFI ou mesmo existem olhos que podem captar imagens ao invés de as fotografar. Posso até utilizar o PC quando estou em casa, mas vou aproveitar para acabar de ler aquele livro que veio de Portugal sem ser aberto porque a Ryanair não tem espaço nem para eu abrir uma garrafa de vinho, quanto mais para relaxar na minha leitura.

Posso até escrever cartas à minha mãe, mas a primeira pergunta que me faria seria: Estás parva? Eu tenho Facebook! Tenho cá tempo para ler carta em papel, manda um e-mail.

Poderia neste dias, fazer o desmame da tecnologia, tentar relaxar, tentar adivinhar qual a temperatura local, mas decidi escrever um post e queimar o cartuxo de dizer mal de alguém, eu escrevo sobre esta terrível realidade, uma emigrante sem telemóvel.

 Portanto eu decidi, nestes próximos dez dias pedir um phone emprestado, não há cá merdas nem cenas de BIO nóia, que as radiações fazem mal e o camandro. Opá tu dorme com o telemóvel longe da cabeça!!! (dizem as malucas daqui) - Filhas tomara eu, às vezes ter algum sinal de ondas magnéticas na minha cabeça, talvez houvesse mais movimentação cerebral e deixasse de fazer tanta merda!

É isso mesmo, sou dependente desta cena e não quero tratamento, só quero que os gajos da Apple me ponham uma bateria nova e que dure pelo menos um dia!

P.s. Apple fizeste coisas tan bouas, mas esqueceste-te de uma bateria que dure, principalmente às centenas de mensagens que recebo, das centenas de grupos que tenho. 



sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Ai Mãezinha…

Livros sobre maternidade é vê-los nas livrarias aos pontapés. Livros sobre emigrantices é coisa pouca mas há artigos nos jornais e nas revistas não faltam crónicas sobre o tema. Agora livrinhos, tipo guias com dicas e sugestões para Mães Emigrantes: ESSES NEM VÊ-LOS! 
Eu gosto de estar preparada, ter a lição estudada e confesso que se esta coisa de ser Mãe já não é pêra doce apesar de todos os avisos, fazê-lo no estrangeiro é como ter lições de condução na Madeira num carro sem travões. Como a grande maioria das mãe quando tenho um caso de emergência com a minha filha a primeira coisa que faço é ligar à avó, que para além de já ter experiência óbvia na matéria acrescenta ainda o título de enfermagem. Entre muitas situações, recordo-me da minha mãe ter dito “vai à farmácia comprar xarope de maçã reineta”. Eu fui e pedi o dito xarope, mas até hoje o farmacêutico está convencido que eu não sei a diferença entre uma farmácia e uma frutaria. No dia em que registamos a nossa filha, eu senti-me uma perfeita anormal por ter um nome completo com mais de cinco nomes, coisa de que a senhora que nos atendeu apenas se recordava de ter visto com uma moça columbiana “mas que não tinha tantos nomes como a senhora...tinha só 3”. De facto, deveríamos ser todos como os italianos, ter um, máximo dois, nomes próprios, um apelido apenas e 3,786.945 pessoas com o nome igual ao nosso. Ora digam lá se não É COISA MUUUUUITO MAIS INTELIGENTE!? Mas se há coisas que se explicam com um “culturas diferentes" há outras que nem na marra. Ora expliquem lá a uma mãe italiana que um cueiro não é um vestido e que os meninos recém-nascidos também os vestem...e assistam a uma mudança radical da sua expressão facial. Pois... 
Ainda há uns dias em conversa com uma outra mãe emigrante cheguei à conclusão que afinal não sou a única que passa a vida a responder à pergunta “mas então que língua é que falas com a tua filha?” e tentar manter uma perspectiva positiva de que já nem isso consigo porque depois de dois anos (quanto mais 15) fora nenhum – repito, NENHUM – emigrante consegue falar a sua língua materna sem pelo meio meter uma argolada estrangeira. Não há escapatória para o mais são dos emigrantes, é fisiológico: calinadas na língua materna é bicho que ataca as entranhas de todo o emigrante. Eu espero que a minha filha consiga aprender a falar um português decente, sem sotaques esquisitos que deêm motivo de galhofa, mas tendo em conta os pontapés exemplares que eu mando nos tomates da gramática portuguesa, a miúda está perdida. 
Não bastassem todos estes dilemas digam-me lá que raio de infância é a da minha filha num país que desconhece o Cerelac e o Nestum!

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Cenas sem interesse

Isto não está nada fácil. Nas últimas duas semanas devo ter escrito seguramente uma dezena de textos para o blogue, mas que por razões minhas acabaram não sendo publicados. Hoje, a Bita perguntava-me se eu já tinha escrito algum texto. Eu disse que sim. Mas também lhe disse que só tinha escrito merda. O que não é necessariamente verdade. Eram apenas queixumes. Depois pensei que essa tinha sido a minha visão das últimas semanas, que não sendo negativas, tinham sido maçudas, chatinhas.

Um dos textos era sobre os sinais de clara velhice que se me abateram que nem camiões TIR, em formato alergias. Eu não sei o que fazer à minha vida com isto. Sinto-me em osmose com os lenços de papel. E não bastando os àcaros a lixar-me a vida eis que é todo um mundo anti-estamínico, anti-alergénico e estirilizado a rebentar-me na cara com as sacanas das etiquetas dos preços sempre acima dos dois dígitos. A Pdi não falha.

Depois escrevi um texto sobre a maneira como as pessoas perdem trabalhos e empregos nesta terra. Assisti em menos de uma semana a dois casos de patrões sem escrúpulos que durante anos dão provas da sua cretinice e que decidem num momento de diarreia mental arrebatar a coisa com um despedimento ao género "eh pá, não venhas amanhã, que já não tens trabalho". Em poucos segundos a vida de quem é despedido, sem justo contrato quanto mais justa causa, fica suspensa. A filha da putice é coisa para me fazer sacar o dicionário minhoto do bolso e abrir na página "asneirada cabeluda".

Estava a campanha eleitoral a dar as últimas quando depois de ler no facebook um comentário ao género "quem não votar merece que lhe nasça uma árvore no cu" comecei a escrever um texto sobre a abstenção. Infelizmente, a grande maioria dos emigrantes que não votam é porque não lhes é facilitado o processo. Para vos dar um exemplo, desde que eu cheguei a Nápoles que o Consulado está encerrado. Se tenho de tratar de alguma coisa, ou simplesmente pedir uma informação mais burocrática tenho de ir a Roma - com data e hora marcada. Raras são as vezes em que a marcação me dá jeito, até porque de cada vez que vou a Roma são 200km. Ora acredito que muitos emigrantes desesperem para resolver "burocracias" em embaixadas a centenas e centenas de quilómetros, porque os serviços consulares simplesmente não existem ou pior porque foram encerrados nos últimos anos, coisa que não bate certo, sendo que os emigrantes são cada vez mais. O deputado do PAN seguramente batia palminhas de felicidade, mas antes que os cus dos emigrantes se tornem vasos de pinheiros bravos, favor deixar claro se querem que os emigrantes também votem.

Eu disse-vos que eram textos sem interesse rigorosamente nenhum.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Faço tricot e atão?



  na página: https://www.facebook.com/bitaschon)


Optar por uma postura positiva depois de um verão espectacular em Portugal, não é de todo a minha praia. Nasci de cu virado para a lua, mas agora a lua parece que se virou para o outro lado e eu tive de emigrar.
As coisas nunca são fáceis para nenhum ser, até o nosso fofo Cristiano Ronaldo teve de lançar uma linha de sapatos e ser entrevistado pela anoréctica da Diana super model of the world, então porque seria eu a sortuda do século? E não ter de ralar com os coutos no mercado de trabalho?

 (Lamento informar-te Bita, mas o teu cu deixou de estar virado para o ângulo directo da lua e ou começas a trabalhar ou aquela malinha Chanel não vai ser só um desejo de Natal da Pepa!)

De modos que, para além da carreira blá blá, dedico me a uma cena que para além de ser melhor que a yoga, dou largas a minha intensa e inesgotável criatividade, chamem o que quiserem, mas eu faço tricot!

Posto isto, visto ter dedos para a coisa, há uns tempos atrás decidi fazer uma venda directa ao público e fui de banca armada para uma feira  da universidade de Mainz. Montei a barraca, expus o meu trabalho. As bancas que estavam ao meu lado, vendiam roupa usada, bem como biquínis, camisolas com manchas de suor etc, tudo a dois euros.  Não tardou e as alemonas comentaram as minhas criações únicas e exclusivas:
 - és tu que fazes? À mão? Uau! Quanto custa? Ahm tão caro (20 euros)!
 (Ó puta é caro? É feito à mão, e é novo! Não são como as cuecas que compraste na banca aqui do lado, que foram usadas e besuntadas por aquela vendedora que deve tomar banho só na altura do Oktoberfest!)

Nesse dia vendi pouco e, fiquei triste, porque esta sociedade de loiras com as beiças pintadas de encarnado, não sabem o que é artesanato, hand made, não entendem que existe um fio de lã que depois enrolado e manejado com destreza se transforma em arte, que pode ser usada nos pescoços de pessoas com bom gosto!
Desisto e, informo que as maiores encomendas que tenho são para Portugal e apesar da crise e blá blá pardais ao ninho, nós sabemos dar valor à cena de dar ao dedo e fazer arte ou whatever com as manaplas.

Todas as minhas criações são para vocês minhas portuguesas cheias de pinta, porque estas meninas apesar de ganharem vinte vezes mais que vocês gastam dinheiro em second hand em bancas de feira e, preferem usar um cachecol feito na Indonésia, do que um original feito pela Bitaschön.

Deixem I'll be back e quando quiserem venderei e enrrabarei com o punho dos meus altos preços!
Por favor não deixem morrer esta minha criatividade e façam LIKE na minha página, só abro a loja no Natal, ou levo para PORTUGAL ou envio por correio internacional (que não é assim tão caro)



Vá a veri... que tenho de ir trabalhar!

Já que me autorizam a publicidade: Tomem lá disto!




terça-feira, 29 de setembro de 2015

Pois é...

...a gaita é que sou a única que migrou. E isso torna a tarefa de escrever sobre este processo de deslocalização bem mais complicada. Não há grandes choques culturais a apontar. Ou melhor, há. Mas corria grande risco de ver a minha cabeça pendurada num pau de uma bandeira do município espetado em plena praça do Geraldo.
Assim, venho-vos falar da chuva e da gaita do tempo. Tipo aquelas conversas que temos com pessoas que mal conhecemos e que não nos interessa conhecer melhor.
Está de chuva, porra. O que é bom por aqui. Porque faz bem aos campos. E às colheitas. E à agricultura em geral.
Mas não me faz bem nenhum. Confesso que adoro a chuva. Principalmente a de Setembro que se faz sempre acompanhar de belas trovoadas. Esta chuva cheira a torradas feitas pela minha titi mesmo no final das férias. No tempo em que as aulas começavam sempre depois do 5 de Outubro, quando ainda era feriado. Nessa altura, comia torradas na cozinha, vendo os relâmpagos e contando os segundos para que a luz fosse abaixo. Ou para que a chuva parasse e eu pudesse ir brincar para a rua com as minhas amigas.
Hoje já não vou brincar para a rua mas tenho de andar na rua. A tentar não ficar toda cagada dos salpicos da lama. Desesperada para não vazar nenhum olho a um qualquer transeunte descuidado que encalhe no meu macro chapéu de chuva.
A chatice é que eu acho que não dei uso suficiente às sandálias. E, se bem virmos, nem aos fatos de banho. Nem à perda de peso que tanto me custou para a conseguir desfilar na praia (se bem que a arruinei na primeira semana e que bem podia andar enrolada num toldo da praia o resto das férias).
Este tempo de caca, em que não faz frio nem calor, em que não chove a sério nem deixa de chover deixa-me deprimida. Ainda não me dá vontade de comprar roupa quente mas faz-me vomitar em cima dos shorts descarados que tão bem iam com as pernas bronzeadas.
É um raio de um tempo que nem convida à imperial ao fim do dia. Mas que também ainda não apela ao chocolate quente com tostas mistas no centro da cidade.
Faz-se o que, então?
Entra-se numa espécie de depressão latente que nos infecta de uma fúria que nos põe a acabar tarefas inacabadas, a fechar projectos, a arrumar assuntos. E eu não gosto disto. Daqui a nada é Natal.
E eu ainda estou mentalmente de havaiana no pé, na minha cabeça.
Esta merda de tempo deixa-me mole.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Para a próxima como e digo menos asneiras!

Segunda-feira depois dos meus anos, a única merda que consigo mudar, vivendo nesta terra, é o lado para onde durmo. 

Pensei, agora vou fazer um plano de treinos, alimentação e vida saudável, tenho 33 e quero num futuro médio longo prazo ser mãe. A única coisa que consegui até agora foi malhar o bolo de aniversário e as tostas com pasta de azeitona, comi umas mil. 

Digamos que não consigo resistir a comer uma merdinha de vez em quando, uma salsicha no pão com mostarda e/ou um Schnitzel com batatas fritas a granel. Há alturas que estou mais disciplinada, mas também mais infeliz. A minha percepção de, acima do peso é, quando visto as jardineiras de 2002, caso o lacão apareça de lado a sorrir para o espelho, boto-lhe o regime de 2 litros de água de gengibre e como fruta até me borrar toda. 

A shit de ser emigrante é que a escala real de peso está um pouco desfocada visto aqui haver baleias a cada 2 metros, de forma que não sinto a necessidade de competição. 

O verão é sempre o período que conseguimos fazer aquela dieta sucesso, o grau de humidade é de tal forma elevado que o facto de me montar em cima da bicicleta e pedalar um metro emagreço automaticamente, consegui emagrecer até ao ponto de voltar de férias com a sensação de dever cumprido comi 4 pastéis de nata e consegui resistir às bolas de Berlim, não por dieta, mas por ressaca. 

É sempre uma gula desgraçada quando penso que vou para Portugal, mas depois chego e a fome passa, dando lugar a vontade de beber e fumar.

 Tento não pensar muito quando volto, dasse podia ter comido aquele queque da Sacolinha, ou a bola de Berlim do Guincho. 

Mas não, a nova emigrante para além de não ir de férias de Mercedes, não trazer azeite e chouriços na mala do carro, chega ao país de acolhimento ainda mais aguada. 

Para a próxima como!








segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A galinha da vizinha

Os emigrantes portugueses são monarcas na arte da comparação. Nada escapa ao olho clínico e ao juízo infalível do emigrante português. Comparar o país de onde se é natural com o país de acolhimento é um género de desporto nacional emigrante. 
Não interessa se está emigrado há 5 anos ou há 5 dias, pois o emigrante será sempre um doutorado em artes comparativas. A mais extraordinária característica desta enorme comunidade científica é a coerência opinativa. Quando estão em Portugal, de férias, por uns dias, ou apenas de raspão, defendem a tese que a escolha de ter emigrado foi sem sombra de dúvida a mais acertada já que “Portugal é uma bela merda”. Quando estão no desterro da nação de acolhimento, a contar pelos dedos da mão os dias que faltam para regressar à Pátria, eis que Portugal é elevado a todo o seu esplendor com o sempre batido “eh pá, aquilo sim é que é bom”. Diz que é a saudade a bater forte. Balelas! É claro, meus queridos amigos, que não se deve generalizar e, é claro também, que os emigrantes portugueses não são os únicos a cair nesta esparrela, mas como quem está a escrever o texto sou eu, caguei bem para essa merda. 
Nesta minha já longa jornada de emigrantices, deixei-me de comparações faz tempo e por uma simples razão: não leva a lado nenhum. É claro que o coração bate sempre mais forte por aquilo que nos é familiar e é justo que assim seja – ora bolas, não somos feitos de ferro - mas também é claro como água que só se muda quando tem mesmo de ser e que essa mudança é sempre na esperança de mudar para melhor. Às vezes corre bem (e ainda bem), outras corre mal (paciência), mas comparar uma pizza a um cozido à portuguesa, é na sua essência, uma cretinice. 
Portugal é melhor numas coisas mas também é uma bela bosta noutras, exactamente como em Itália onde a famosa “Bella Vita” compete seriamente com merdas que “não cabem na cabeça dum tinhoso”. A galinha da vizinha pode ser mais gorda, mais esvoaçante e ter mais penas que a nossa, mas não significa que seja melhor ou pior que a nossa, é apenas diferente. Se espaço houver para se melhorar, então que se faça alguma coisa nesse sentido, mas se a crítica é apenas por desporto então mais vale estarmos “sugaditos” e caladinhos no nosso canto. 
As comparações habitualmente levam-nos a confundir feitios com defeitos.  Somos como somos, não me lixem!

sábado, 19 de setembro de 2015

Eu sou emigrante e fiz férias em Agosto

Estou em Portugal de férias, poderia começar a falar sobre os meus problemas psicológicos e de aceitação ao facto de estar longe deste mar que me provoca orgasmos cada vez que entro nele. Mas prefiro falar de uma simples constatação. Nós não damos valor a esta merda. Mesmo quando estamos fora lembramo-nos do Mar, do cheiro e do sabor das pessoas que aqui habitam.

 Quem me dera viver aqui, com todas as condições de trabalho e ensino que tenho na Alemanha, seria o país perfeito. Fumar um cigarro na varanda levar com o bafo frio da maresia e ficar com o sal colado entre os dedos, levar piropos do velho rebarbado que está deitado ao nosso lado na praia. Demorar sete anos a chegar a praia e não ter lugar para estacionar o carro e, desejar que o tempo abra lá para o fim da tarde caso contrário vais beber minis para a tasca. 

É desta cena que sentimos falta, do normal que se torna anormal quando vamos para um país que é tudo alinhado e limpo. Mas aqui em Portugal o verão para além de nos tornar sexualmente mais atraentes faz nos ficar mais felizes, mesmo que não nos apeteça, na Alemanha o verão faz-me sentir mais uma branca suada que corre de bicicleta para todo o lado à procura de uma vesga de sol.

 Aqui em Portugal as coisas estão pretas, mas também ir para um país onde há marrãs brancas não é a solução para os meus problemas psicológicos, de convivência social, cultural e profissional, mas tenho de lá estar porque agora mamo com aquela merda até ao final e, aqui ainda não há trabalho para mim.

Let's talk about... Comida. 
Não tenho apetite, babei durante meses cenas como bacalhau com natas e bolas de Berlim. Neste momento contabilizo que já comi três pastéis de nata e uma bola de Berlim. Nada de comida tipicamente portuguesa tirando as belas sardinhas, mas o bacalhau nem vê-lo. 

Voltando a Mainz a aguadilha insaciável voltará e com ela voltará a minha vontade de verão, praia e buídas. 

Porque este verão eu curti bués!
(Estive de férias, já regressei Dasse!Buhhhh)


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Carta de amor

O nosso amor começou como tantos outros começam hoje em dia, online.

Sem sequer nos conhecermos já partilhávamos tanto, alegrias, tristezas, sonhos, expectativas. Eu vinha de uma longa e estável relação, que se foi tornando demasiado previsível com o passar do tempo. Sentia saudades daquelas incertezas dos primeiros tempos, de não saber o que esperar, de não saber o que iria acontecer no dia seguinte, do frio na barriga, enfim sentia saudades de me apaixonar.
Quando nos conhecemos foi amor à primeira vista, a tua frescura, o teu cheiro, as tuas cores, um mundo cheio de possibilidades. Fui obrigada a afastar-me de ti por mais uns tempos, fui-me preparando para o nosso futuro e fui sonhando com a nossa vida a dois, fazia planos, planos e mais planos.
Quando finalmente começámos a viver juntos, rapidamente percebi que a realidade era bem diferente do sonho. A tua imprevisibilidade que tanto me entusiasmava era na verdade muito confusa, digna de alguém com múltiplas personalidades. Os nossos amigos foram cruciais nestes primeiros tempos, diziam-me que nunca te tinha visto assim, que deverias estar a passar uma fase estranha, iludi-me e achei que talvez fosse circunstância do mundo em que vivemos, enchi-me de esperança e aguentei tudo pelo nosso amor. Já passou mais de um ano e na verdade sinto-me enganada. Tudo o que me mostravas na Internet, tudo o que me prometias, tudo o que outras pessoas me contavam sobre os anos que já passaram, tudo era uma ilusão. Ou talvez não, porque na verdade havia momentos bons, muito bons mesmo em que me mostravas com todo o esplendor aquilo que tinhas para oferecer. Sinceramente já não sei o que pensar, isto não é normal, nunca vi nada assim.

A gota de água foi mesmo ontem, saí de casa com um dia lindo, à noite começou a chover torrencialmente e a temperatura foi descendo até ficares gélido!
Não dá mais, ou tu mudas ou temos de dar um tempo meu querido tempo de Melbourne


PS – para aqueles que acham que a Austrália é só sol, surf e cangurus venham visitar Melbourne que eu tanto adoro, mas tragam o biquini e a roupa da neve para usar no mesmo dia, que aqui nunca se sabe....Ontem estiveram 27ºC graus e hoje 11ºC. SIM LERAM BEM DE 27ºC para 11ºC.








segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Ser emigrante

Isto de conhecer novas culturas e países é muita giro, mas ser emigrante não entra na categoria do giro. Ser emigrante é outra coisa: ser emigrante é lixado!
Ser emigrante é, em ultima análise, uma escolha, mas na maior parte das vezes é uma escolha “porque tem de ser”. É deixar o “conforto” da nossa casa e levar um chapadão a seco da senhora incerteza, essa grande matreira. Pois apesar das garantias e ajudas que possam haver no país de acolhimento a incerteza é gaja que anda sempre a pairar, tipo abutre. Ao emigrante resta acreditar no “vai correr tudo bem”, porque esperança é a única coisa que serve a quem já está a agarrar o touro pelos cornos.
Para trás fica tanto, mas tanto, que até doi só de pensar. É que não é só a família ou os amigos, são também as ruas, a mercearia do costume, o ginásio, a escola, a bica, o pão de leite com queijo, o sol e até a merda da chuva. Tudo aquilo que define a nossa origem.
Leva-se na bagagem o (estritamente) necessário – o limite de bagagem dos aviões não se compadece com vidas emigrantes – e um mundo de saudades dos ombros à unha do mindinho. Não interessa o dinheiro que se leva na carteira, as oportunidades que esperam lá do outro lado, porque é sempre assim que se vai. É assim que se emigra. É o filha da puta do “tem de ser” a dar a palavra final e o emigrante a engolir a seco.
Quando se chega ao outro lado, pela primeira vez, entra-se a medo, as dúvidas são muitas, a necessidade de perceber e de se enquadrar é pão para a boca. Por isso é que se engolem orgulhos e se abrem peitos. É que quando se aceitam as coisas como são, dói menos.
A terra não é nossa. Arriscamo-nos a ouvir um “volta para a tua terra” e não ter como responder porque em boa verdade aquela não é mesmo a nossa terra. Há momentos de revolta, de frustração, de medo e ansiedade. Há uma tristeza permanente mas que com o passar do tempo passa a ser nossa companheira. Sacana.
O tempo passa e com ele o período de acomodação. Acho que é por essas alturas que nasce a gratidão. Mas gratidão a sério, não aquela que vem toda supimpa com termos de comparação, com a boca cheia de criticas sobre o país de onde se veio e de venenosa soberba sobre quem nos acolhe. Não. Nada disso. Há um momento e que deixamos de pensar “olha a sorte que tiveste, quando há tanta gente a querer estar no teu lugar” para sentir gratidão e pensar “gosto disto, pá”.
Olha-se para o cartão ou para o documento que atesta a nossa residência no país de acolhimento e agradece-se. É que na verdade é mesmo preciso agradecer quem nos acolheu, quem nos deu a mão, quem nos deu a oportunidade de seguirmos com as nossas vidas. Foi dificil, porque foi. Mas fomos aceites, temos uma casa, um trabalho, às vezes até uma nova família, novos amigos. Uma nova vida. E isso vale tudo.
Eu já fui aceite por três países diferentes. Preenchi os papéis todos, correspondi ao perfil exigido. Tive documentos a provar a minha residência. Contratos de trabalho e segurança social, finanças e saúde. Aprendi a língua (se bem que o cantonês ficou sempre àquem das expectativas) e aceitei as condições impostas. Segui as minhas tradições e as minhas escolhas sem nunca desrespeitar as do país que me abriu as portas. Com mais ou menos celeridade e/ou dificuldade, fui sempre aceite e tive consciência disso. Foram sempre processos com uma certa complexidade, mas que merecem a minha eterna gratidão.
A sociedade destes três países acolheu-me, permitiu a minha subsistência e o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Concretizaram alguns dos meus sonhos mas também me fizeram bater com a cabeça nas paredes. Cada vez mais para trás ficava o plano B, aquele que nos lembra que pudemos sempre voltar a casa se a coisa correr para o torto. O regresso nas férias recordava isso mesmo. Portugal seria sempre o meu porto seguro mas a casa, essa já era lá do outro lado.
Ser emigrante é viver entre dois mundos, é ser-se rabugento e grato ao mesmo tempo. É ser aceite e perceber que essa é mesmo a única solução para seguir com a vida. Ainda que seja lixado, ser emigrante é basicamente isto.
Não faço ideia o que seja ser refugiado.


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

I give Love a Bad Name.

Os Bon Jovi vêm a Macau. A pré-adolescente em mim guincha de emoção, monopoliza o Youtube numa playlist infinita dos grandes hits desse mauzão de coração soft, bué soft, que era o Jon Bon Jovi nos anos 90. Aqueles olhos azuis escondidos por detrás daquelas madeixas de cabelo louro (talvez natural, talvez não), inexplicavelmente azeitolas mas tão, tão cool na altura. Aqueles coletes de pele de cobra em cima daquela pele suada e aquelas tattoos nos braços magrinhos porém tonificados dele.


O Jon era *tudo nesta vida*. Era a versão mais lavadinha e com melhores genes depois do Axl Rose, invariavelmente o dono dos corações monógamos das piquenas, eu incluida, que adormeciam de phones nos ouvidos a absorver cada sussurro que ele mandava nas suas baladas rock, numa bed of roses imaginária. Era o Rei antes de resvalarmos para a mariquice das boys bands (e sim, eu e o Nick Carter tivemos também uma relação sólida como a pedra).
Não faço ideias de ir ver o Jon em Macau. Pela mesma razão que não fui ver o Nick. Recuso-me a ver o Jon de cabelos brancos, rugas na cara e (possivelmente) no corpo - isso só se admite ao Iggy e acabou aqui a conversa. Também me recuso a ver o Nick gordo e awkward - o Nick só podia ser awkward aos 16 anos, da mesma forma que o Jon só era borracho até ao fim dos 90's - a partir do "It's my life" já começava a resvalar para um look pseudo-K-Pop-amaricano piroso - pá, não dá! Até as permanentes no fim dos 80's (vide- Living on a Prayer) tinham mais verdade.

Jon circa 1980 e tal
Não é contudo com menos amor que continuo a rejubilar com todos os mega-hits que são os eternos Bon Jovi: mas com uma venda nos olhos face à idade. Always.

Jon com a P.D.I.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O Engate

O engate na Alemanha, enquanto mastigado sabe a papel e embaça a garganta.
Os primeiros seis meses que cheguei a Mainz foram do tipo a lei seca. Não ouvi um piropo, nunca não ouvi um "ai ca boa", nunca ouvi nada.

Pensei durante algum tempo que este gajos fossem frígidos e não olhassem para nós mulheres e nos quisessem comer. Passava nas obras e não havia um assobio, não havia um trolha a gritar "eh bacalhau", "es tão boa que até a água do banho te bebia!"! De forma que após seis meses de seca chego ao aeroporto Sá Carneiro no Porto e antes mesmo de ir pegar a mala oiço, "boa pá ca boa" !!! O meu ego voltou a aumentar e pensei, será que só sou boa aqui em Portugal? Sorri enquanto caminhava para a papelaria para comprar um maço de cigarros, porque nem sequer tenho hábito de fumar, mas é tipo aquela sensação depois do sexo, apetece sempre um cigarrinho da praxe!

A minha experiência empírica dos poucos anos que tenho de Alemanha faz me pensar que não há maneira mais fria de um alemão galar um gaja: Vou a uma festa cheia de loiras bombadas cheias de make, sinto-me a menina que veio de jeans e rasos quieta no meu canto a dançar, vem o alemão ter comigo, jovem, suado e branco. Em alemão pergunta me se estou sozinha, respondo-lhe que não e aponto para o meu namorado que joga Rugby. Automaticamente o gajo desaparece do meu ângulo de visão e até mesmo da disco, isto em dois segundos, estes gajos são mesmo medricas man. Não têm a arte do engate, dos olhares que nos comem dos pés à cabeça.
Outra, vou de bicla, estava um calor de morte enquanto descia uma rampa em velocidade furiosa, um turco atravessou-se no meu caminho e fala qualquer coisa, deduzi que fosse que mamas boas, na realidade tinha um papel colado à roda da frente. Aprendi também que não se pode sorrir para um homem, porque passados dois segundos ou está a incomodar ou cagou para a tua simpatia. Nada como o nosso belo piropo português, o ai ca boa com o assobio no final. Espero não ter perdido os meus anos de vigor e de ouvir piropos brejeiros ou até poéticos, porque isto de ter 32 anos, estar branca com a cal e viver na Alemanha sem ouvir baixinho um comia-te toda, baixa a moral de uma gaja sem filhos.

Chega desta pobreza de piropos em estrangeiro, vindos de machos brancos, que se banham ao sábado e usam meias brancas com sandálias. Vou só ali passar uns dias a Portugal ver se ainda desperto qualquer cena nos homens latinos. É que sabe bem um eye contact de um macho alfa com banho tomado.


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Faz boa viagem!

Há não muito tempo era coisa simpática de se ouvir. Hoje, só de pensar que vou viajar até se m’arrepiam as sobrancelhas. Dantes pelava-me para entrar num avião, hoje dou por mim a respirar de alívio quando o avião se atrasa ou a viagem é adiada por esta ou por aquela razão. Nos últimos 2 anos perdi 3 aviões e tenho para mim que o inconsciente falou mais alto em todas as situações. É oficial: tornei-me uma medrosa, uma gelatinosa, uma assustadiça, uma merdas.
Há 3 dias foi um avião que se despenhou na Indonésia, ontem e hoje foram as explosões no centro de Bangkok. E eu em contagem decrescente para uma viagem intercontinental que me deixa os nervos em franja e os dentes a ranger.
Mas como é que esta merda me foi acontecer? Deixar-me levar por histerias colectivas e ignorâncias proliferantes? Como? É que isto nem sequer é coisa que fique bem com o meu tom de pele!

Eh pá, tenho saudades das viagens que fiz sem olhar para trás, daquelas em que só de ver o avião na sala de embarque até dava um friozinho na barriga de excitamento. Hoje já nem as milhas colecciono. Eu quero lá saber dessa trampa...eu quero é que o bicho aterre no destino!
Mas não é apenas a deslocação que me deixa ansiosa, mas também os destinos finais. Mata-se e morre-se como se nada fosse, assim à queima-roupa, enquanto se está a comprar uma garrafa de água para a criança ou enquanto se está a apanhar banhos de sol. WHAAAAT DAAA FUCKING FUCK!?
Nada se compara à primeira vez em que vi a Torre Eiffel; ou percorri Tiananmen a caminho da Cidade Proibida; ou vi as gazelas correrem ao lado do jipe no Deserto do Gobi; ou sentir-me molhada até aos ossos debaixo das chuvadas tropicais da selva santomense; ou beber uma bela cerveja com a mantinha nos ombros em plena Nyhavn; ou ver o Tejo a iniciar a sua viajem pelos jardins de Aranjuez; ou andar pelas barcas do bairro de lata de Jakarta; ou aquela alfaiataria de saaris nos subúrbios de Nova Delhi onde Valentino era habitué; ou a jukebox do Mondebar a tocar AC/DC; ou percorrer as estradas da floresta negra num C55 AMG. Nada é comparável às sopas vietnamitas, ao café turco, ao chá nas medinas marroquinas, ao hotdog novaiorquino e à enorme infelicidade de nunca ter comido bem em Veneza, apesar de todas as recomendações e dicas.

Tenho saudades de todos os destinos por onde andei e todas as coisas que fiz, sem pensar que um atrasado mental de mochila e t-shirt xpto amarela torrada de perfil identificado por uma camera de filmar de uma caixa multibanco, a abrir os telejornais de todo o mundo, ande por aí à solta a jogar ao “bora rebentar aqui com uns turistas em nome de whatever da fuck” só porque lhe deu forte na P*** da veneta.
É assustador pensar que alguns destinos em que estive dificilmente irei voltar, outros em que jamais levarei a minha filha e outros ainda que simplesmente não posso ir. Tudo isto porque os tempos são o que são e porque o medo lá vai conquistando terreno ao bom senso.

Não sou apologista do quanto mais vejo de mau a acontecer, mais valor dou à minha casinha, por uma razão apenas: isso é estúpido. Mas admito que deixar-me invadir por uma “crise de enervadura” com uma simples deslocação aérea de 40 minutos também não é brilhante.
Há experiências demasiado valiosas para serem ignoradas. Há sítios que temos de ver. Há ruas em que temos de caminhar e caras com as quais nos temos de cruzar. Temos e devemos querer conhecer o outro, o próximo, o que nos é estranho e estrangeiro, porque se não o fizermos, porque se negarmos conhecimento, estamos a negar a nossa própria existência, a nossa humanidade. A vida.
É por isso que eu vou entrar naquele avião e depois daquele mais outro e mais outro ainda e vou chegar lá longe como ó caraças mais velho. Vou ansiosa, mas vou, porque o caos é fruto da ignorância, não do conhecimento. E também porque se eu pedir o dinheiro de volta da viagem, os senhores da agência são capazes de me mandar à merda.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Falar estrangeiro

Ora aqui esta um texto que seria tão mais giro se tivesse milhões de exemplos!

Mas pensando bem, os nossos leitores (tipo 3) só se riem com as barbaridades que para aqui escrevemos, mas participar que é bom tá quieto e isso não está nada bem. Por isso agora vão ser vocês a bulir! Vá a veri. Como vai ser difícil evitar completamente os exemplos, aproveitem bem os bónus que vos dou, vá fait attention.

É óbvio que és um emigra quando na mesma frase usas palavras noutra língua, lá pelo meio e normalmente sem te aperceberes. Seja porque já não sabes como se diz na língua que estás a falar ou porque pura e simplesmente já andas há tantos anos nisto que o teu cérebro deu um nó e já nem sabes bem em que língua é que estavas a falar.

Isto é particularmente relevante para os emigras que vivem em países onde se fala estrangeiro, mas mesmo aqueles que vivem em países de língua oficial Portuguesa não se livram de ganhar um sotaque diferente ou de passarem a usar expressões que só se usam nesse país. Acham mesmo que não fazem isso? Perguntem aos vossos amigos lá da Terra se vocês não estão a falar "esquisito".

Também se dá muito responder noutra língua. Do tipo: “Do you agree? Óvio (sim óvio e não óbvio)".

Depois, há aquelas palavras que fazem mais sentido noutra língua, sim porque dizer stakeholders ou counterparts em Português não soa tão bem.

Há as traduções literais do tipo “Ontem tive um treinamento em gestão de recursos humanos” ou “A Catarina aplicou para um trabalho novo”, ninguém que saiba falar Português correctamente diz isso, mas vindo de um emigra a coisa aceita-se.

Por último, também é giro inventar palavras novas e dar-lhe um accent numa outra língua qualquer. Até me dizem que eu tenho um funky English, tal não é a facilidade com que invento palavras novas. Na verdade, não é só em Inglês, quem nunca falou Portunhol que atire a primeira pedra.

Agora são vocês! Vá, encham-nos lá de exemplos...