Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O Engate

O engate na Alemanha, enquanto mastigado sabe a papel e embaça a garganta.
Os primeiros seis meses que cheguei a Mainz foram do tipo a lei seca. Não ouvi um piropo, nunca não ouvi um "ai ca boa", nunca ouvi nada.

Pensei durante algum tempo que este gajos fossem frígidos e não olhassem para nós mulheres e nos quisessem comer. Passava nas obras e não havia um assobio, não havia um trolha a gritar "eh bacalhau", "es tão boa que até a água do banho te bebia!"! De forma que após seis meses de seca chego ao aeroporto Sá Carneiro no Porto e antes mesmo de ir pegar a mala oiço, "boa pá ca boa" !!! O meu ego voltou a aumentar e pensei, será que só sou boa aqui em Portugal? Sorri enquanto caminhava para a papelaria para comprar um maço de cigarros, porque nem sequer tenho hábito de fumar, mas é tipo aquela sensação depois do sexo, apetece sempre um cigarrinho da praxe!

A minha experiência empírica dos poucos anos que tenho de Alemanha faz me pensar que não há maneira mais fria de um alemão galar um gaja: Vou a uma festa cheia de loiras bombadas cheias de make, sinto-me a menina que veio de jeans e rasos quieta no meu canto a dançar, vem o alemão ter comigo, jovem, suado e branco. Em alemão pergunta me se estou sozinha, respondo-lhe que não e aponto para o meu namorado que joga Rugby. Automaticamente o gajo desaparece do meu ângulo de visão e até mesmo da disco, isto em dois segundos, estes gajos são mesmo medricas man. Não têm a arte do engate, dos olhares que nos comem dos pés à cabeça.
Outra, vou de bicla, estava um calor de morte enquanto descia uma rampa em velocidade furiosa, um turco atravessou-se no meu caminho e fala qualquer coisa, deduzi que fosse que mamas boas, na realidade tinha um papel colado à roda da frente. Aprendi também que não se pode sorrir para um homem, porque passados dois segundos ou está a incomodar ou cagou para a tua simpatia. Nada como o nosso belo piropo português, o ai ca boa com o assobio no final. Espero não ter perdido os meus anos de vigor e de ouvir piropos brejeiros ou até poéticos, porque isto de ter 32 anos, estar branca com a cal e viver na Alemanha sem ouvir baixinho um comia-te toda, baixa a moral de uma gaja sem filhos.

Chega desta pobreza de piropos em estrangeiro, vindos de machos brancos, que se banham ao sábado e usam meias brancas com sandálias. Vou só ali passar uns dias a Portugal ver se ainda desperto qualquer cena nos homens latinos. É que sabe bem um eye contact de um macho alfa com banho tomado.


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Faz boa viagem!

Há não muito tempo era coisa simpática de se ouvir. Hoje, só de pensar que vou viajar até se m’arrepiam as sobrancelhas. Dantes pelava-me para entrar num avião, hoje dou por mim a respirar de alívio quando o avião se atrasa ou a viagem é adiada por esta ou por aquela razão. Nos últimos 2 anos perdi 3 aviões e tenho para mim que o inconsciente falou mais alto em todas as situações. É oficial: tornei-me uma medrosa, uma gelatinosa, uma assustadiça, uma merdas.
Há 3 dias foi um avião que se despenhou na Indonésia, ontem e hoje foram as explosões no centro de Bangkok. E eu em contagem decrescente para uma viagem intercontinental que me deixa os nervos em franja e os dentes a ranger.
Mas como é que esta merda me foi acontecer? Deixar-me levar por histerias colectivas e ignorâncias proliferantes? Como? É que isto nem sequer é coisa que fique bem com o meu tom de pele!

Eh pá, tenho saudades das viagens que fiz sem olhar para trás, daquelas em que só de ver o avião na sala de embarque até dava um friozinho na barriga de excitamento. Hoje já nem as milhas colecciono. Eu quero lá saber dessa trampa...eu quero é que o bicho aterre no destino!
Mas não é apenas a deslocação que me deixa ansiosa, mas também os destinos finais. Mata-se e morre-se como se nada fosse, assim à queima-roupa, enquanto se está a comprar uma garrafa de água para a criança ou enquanto se está a apanhar banhos de sol. WHAAAAT DAAA FUCKING FUCK!?
Nada se compara à primeira vez em que vi a Torre Eiffel; ou percorri Tiananmen a caminho da Cidade Proibida; ou vi as gazelas correrem ao lado do jipe no Deserto do Gobi; ou sentir-me molhada até aos ossos debaixo das chuvadas tropicais da selva santomense; ou beber uma bela cerveja com a mantinha nos ombros em plena Nyhavn; ou ver o Tejo a iniciar a sua viajem pelos jardins de Aranjuez; ou andar pelas barcas do bairro de lata de Jakarta; ou aquela alfaiataria de saaris nos subúrbios de Nova Delhi onde Valentino era habitué; ou a jukebox do Mondebar a tocar AC/DC; ou percorrer as estradas da floresta negra num C55 AMG. Nada é comparável às sopas vietnamitas, ao café turco, ao chá nas medinas marroquinas, ao hotdog novaiorquino e à enorme infelicidade de nunca ter comido bem em Veneza, apesar de todas as recomendações e dicas.

Tenho saudades de todos os destinos por onde andei e todas as coisas que fiz, sem pensar que um atrasado mental de mochila e t-shirt xpto amarela torrada de perfil identificado por uma camera de filmar de uma caixa multibanco, a abrir os telejornais de todo o mundo, ande por aí à solta a jogar ao “bora rebentar aqui com uns turistas em nome de whatever da fuck” só porque lhe deu forte na P*** da veneta.
É assustador pensar que alguns destinos em que estive dificilmente irei voltar, outros em que jamais levarei a minha filha e outros ainda que simplesmente não posso ir. Tudo isto porque os tempos são o que são e porque o medo lá vai conquistando terreno ao bom senso.

Não sou apologista do quanto mais vejo de mau a acontecer, mais valor dou à minha casinha, por uma razão apenas: isso é estúpido. Mas admito que deixar-me invadir por uma “crise de enervadura” com uma simples deslocação aérea de 40 minutos também não é brilhante.
Há experiências demasiado valiosas para serem ignoradas. Há sítios que temos de ver. Há ruas em que temos de caminhar e caras com as quais nos temos de cruzar. Temos e devemos querer conhecer o outro, o próximo, o que nos é estranho e estrangeiro, porque se não o fizermos, porque se negarmos conhecimento, estamos a negar a nossa própria existência, a nossa humanidade. A vida.
É por isso que eu vou entrar naquele avião e depois daquele mais outro e mais outro ainda e vou chegar lá longe como ó caraças mais velho. Vou ansiosa, mas vou, porque o caos é fruto da ignorância, não do conhecimento. E também porque se eu pedir o dinheiro de volta da viagem, os senhores da agência são capazes de me mandar à merda.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Falar estrangeiro

Ora aqui esta um texto que seria tão mais giro se tivesse milhões de exemplos!

Mas pensando bem, os nossos leitores (tipo 3) só se riem com as barbaridades que para aqui escrevemos, mas participar que é bom tá quieto e isso não está nada bem. Por isso agora vão ser vocês a bulir! Vá a veri. Como vai ser difícil evitar completamente os exemplos, aproveitem bem os bónus que vos dou, vá fait attention.

É óbvio que és um emigra quando na mesma frase usas palavras noutra língua, lá pelo meio e normalmente sem te aperceberes. Seja porque já não sabes como se diz na língua que estás a falar ou porque pura e simplesmente já andas há tantos anos nisto que o teu cérebro deu um nó e já nem sabes bem em que língua é que estavas a falar.

Isto é particularmente relevante para os emigras que vivem em países onde se fala estrangeiro, mas mesmo aqueles que vivem em países de língua oficial Portuguesa não se livram de ganhar um sotaque diferente ou de passarem a usar expressões que só se usam nesse país. Acham mesmo que não fazem isso? Perguntem aos vossos amigos lá da Terra se vocês não estão a falar "esquisito".

Também se dá muito responder noutra língua. Do tipo: “Do you agree? Óvio (sim óvio e não óbvio)".

Depois, há aquelas palavras que fazem mais sentido noutra língua, sim porque dizer stakeholders ou counterparts em Português não soa tão bem.

Há as traduções literais do tipo “Ontem tive um treinamento em gestão de recursos humanos” ou “A Catarina aplicou para um trabalho novo”, ninguém que saiba falar Português correctamente diz isso, mas vindo de um emigra a coisa aceita-se.

Por último, também é giro inventar palavras novas e dar-lhe um accent numa outra língua qualquer. Até me dizem que eu tenho um funky English, tal não é a facilidade com que invento palavras novas. Na verdade, não é só em Inglês, quem nunca falou Portunhol que atire a primeira pedra.

Agora são vocês! Vá, encham-nos lá de exemplos...


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Os sermões que ainda levamos das nossas mães! (mesmo com 32 anos!)

Tenho 32 anos e no pensamento da minha mãe ainda tenho cara para levar umas boas chapadas!

A educação lá em casa sempre foi como pão na mesa, mas no tocante ao asneiramento a coisa foi sempre mais complexa. O porra e o caraças sempre foram engolidos com algum sofrimento mas as mais pesadas sempre foram engolidas com chapadas, especialmente pela minha mãe, o meu pai cagava um bocado na cena. 
De forma que sou do tipo de pessoa controlada, mas caso esteja rodeada de jetlaggers nasce em mim um verruga tão feia como nojenta e lá vêm todas as asneiras que diariamente são controladas. É tipo o peido que espera tempo a mais e causa o efeito ainda mais desastroso para o ambiente local.

De modos que, no outro dia a mãe liga e conversa:
M: Já tens 32 anos tens idade para te controlares e dizeres aquelas asneiras e falar mal de um país que te acolheu!!!
Eu: Mãe aquilo é um blog as pessoas adoram ler coisas más, saaangue! Eu adoro viver na Alemanha! Mas esta gente de sandálias com meias têm de ser humilhadas.

E nisto cai a ficha e penso que, man eu não tenho idade para ouvir sermões da minha mãe, eu estou emigrada pela lógica estou longe e a minha ausência deveria provocar saudade e não vontade de dar sermão!

Aquela cena do sermão de Santo António aos peixes aplica-se ao meu caso, eu não vou deixar de dizer asneiras, mãe desculpa!

Que merda, apesar da idade e distância as nossas mães exercem o mesmo efeito caso vivessem aqui ao lado de casa. Todos os dias falamos e acabamos quase sempre com ideia que ficou alguma coisa por dizer, as dicas sobre o jantar e as perguntas desconfortáveis fazem-se por skype, de forma que o corar da face é detectável no caso de mentira.

Sou uma menina mimada que sempre telefonou diariamente e, a situação mais constrangedora vivenciada na fase adulta foi na universidade.

M: Olá filha estas onde?
Eu: Olá mãe! Estou na universidade a lanchar com uns amigos?
M: Quem são os amigos?
Eu: Ó mãe são uns colegas!
M: O que estás a comer?
Eu: Um galão e um pastel de nata.
M: Olha tu come as coisas que te mandei, não mandes nada fora que há muita gente a morrer de fome.
Eu: Sim mãe!
M: Então vá já acabaste de lanchar?
Eu: Não mãe estou ao telefone com a mãe!
M: Ok então vá vai lanchar e come! Ainda tens o bacalhau a Brás?
Eu: Não mãe, já comi!
M: Pronto! Beijinhos
…e nisto começam os sons de beijinhos durante 10 segundos!
Eu: Beeeeeijo mãe!
M: Faz!!! ... manda beijinhos à mãe, daqueles com som!
Eu: Mãe estou na mesa com os meus colegas (fodasssse) não posso!
M: Faz tu mandas sempre beijinhos à mãe!?!?!?!?

…E com isto fui gozada durante uns anos largos!


Ou seja o sermão que me deu há coisa de quinze dias faz sentido, sou uma filha da mãe, que criou um blog para escrever aventuras caricatas no estrangeiro e manda umas broas asneiradas fodidas que para quem lê, mas caro leitor esta merda toda é a brincar.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Não, não e não!

Partindo do princípio que conseguimos parir os nossos filhos, não há nada que as mulheres não possam fazer. Nós podemos tudo. O que não significa que façamos tudo, até porque há coisas que não se fazem…porque, simplesmente, as mulheres não as querem fazer!
Eu, como mulher, posso tudo, mas há coisas que não faço, como por exemplo: meter gasolina no carro. Eh pá, lamento muito (not) mas gasolina no carro não meto. Não. Nein. Non. No. Nop. No way, Jose! Era só o que mais me faltava…até o diabo se ria!
Chamem-me preguiçosa, mimada, pedante, diva, é isso tudo e o mais que possa haver, mas a JE vai continuar a não meter gasolina no carro. Ah, pois vai!
“Isso é muito bonito mas não tens outra hipótese, minha menina…” pensam vocês, ao que eu repito: ERA SÓ O QUE MAIS ME FALTAVA!

Apesar de todas as tentativas em contrariar este meu handicap, o meu Pai aprendeu a aceitá-lo – e foram várias as vezes que me levou 1L de gasolina quando eu ficava apeada – assim como o meu Marido que foi desde logo avisado desta minha “incapacidade natural” quando nos conhecemos. A minha Mãe, não só compreende e apoia como foi ela a orgulhosa instigadora deste meu comportamento. Filha de peixe…
Mas se reflectirem no assunto irão chegar à conclusão que não há pachorra para as gasolineiras e os seus Self-Services. Detesto todo aquele embuste em que sou obrigada a fazer um trabalho:
1) para o qual não tenho qualificações;
2) para o qual não sou paga;
3) que podia render umas coroas valentes a um qualquer rendimento familiar.
E, atire a primeira pedra quem gosta de sair de dentro do carro com ar condicionado, em plena estação de serviço “Cavalo Lusitano”, quando estão 45 graus à sombra para sujar as mãos levando de recordação, por mais 180km até chegar a casa, o pivete a combustível. Gasolineiras portuguesas, vão-se encher de moscas mais o vosso Self-Service!

Há muita coisa menos boa a dizer sobre Nápoles, sobre Itália e sobre os italianos (não se preocupem que temos tempo e muuuuito pano para mangas…), mas numa coisa este povo acertou: gasolineira, que é gasolineira, tem o senhor gasolineiro, profissional competente da matéria, a dar-me os bons dias quando chego, a perguntar-me como tenho estado, ainda diz olá à minha filha, ao mesmo tempo que atende o meu pedido de encher o depósito do carro para de seguida trazer a maquininha multibanco para que eu efectue o pagamento. Não há bomba em Nápoles que não tenha serviço personalizado, até porque de cada vez que eu leio “Fai da Te” é acelerar e fugir.

Fiquem a saber que nos parques de estacionamento napolitanos é exactamente a mesma coisa. Chega-se ao parque de estacionamento, seja grande ou pequeno, recente ou antigo, no centro ou na periferia e lá estão uns senhores sempre muito simpáticos (uns mais que outros, claro está) a receber o carro e respectiva chave em troca de um ticket. Um descanso para esta alma.
Agora cá andar feita baratinha tonta à procura de lugar para estacionar o carro depois de ter enchido o depósito de gasolina…Tenham santa paciência, mas coisas há que esta mulher NÃO FAZ!

Ps - se souberem de gasolineiras de serviço personalizado em território nacional, avisem. Estou disposta a fazer o meu próprio roteiro e obviamente partilhá-lo com quem esteja interessado!


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Emigrar, será uma escolha?

No outro dia um amigo, cuja nacionalidade nem vale a pena revelar, dizia-me que teve de sair do seu país pois corria sérios riscos de ser assassinado, ou pior, que algo pudesse acontecer à sua mulher ou aos seus filhos. Bolas, que privilegiada que sou que nem consigo imaginar essa sensação. E não, não vou entrar em temas sensíveis porque senão nunca mais saímos daqui.
Para mim emigrar foi uma escolha, houve um dia em já não me apetecia estar onde estava e decidi aventurar-me. Tenho a sensação que a maioria das pessoas que conheço também emigrou porque quis. Bom, alguns emigraram porque não conseguiam encontrar emprego no seu país e assim pode-se dizer que foram forçados a emigrar. Não quero ser injusta com ninguém, sei que há situações de desespero, que levam uma pessoa a aceitar quase tudo.
Feitos os esclarecimentos, não é a estas pessoas que me refiro, nem por sombras. Refiro-me àqueles que emigraram para onde lhes apeteceu, porque lhes apeteceu e tenho constatado que há dois tipos de emigrantes destes:

Tipo 1 –Em Portugal tudo é bom
Caracterizam-se por só falar mal do país onde estão. Acham que Portugal é o país mais bonito do Mundo, que só em Portugal é que se sabe cozinhar, ou comer bom peixe. Que tem as melhores estradas, as melhores escolas, os melhores hospitais, os melhores jogadores de futebol e até mesmo os melhores politícos. Ouvem fado todos os dias com uma lágrima no canto do olho. Andam sempre à procura dos supermercados que vendem produtos Portugueses, ou vá Espanhóis ou Sul Americanos também serve. Ou de um restaurante que tenha coisas Portuguesas. E fazem parte dos 550 mil grupos de facebook de Portugueses no fim do Mundo.

Tipo 2 – Em Portugal tudo é mau
Reconhecem-se por só falar mal de Portugal. Tudo está mal, está à beira da falência. Tem umas praias fraquinhas, o tempo é péssimo e demasiado ameno. Os festivais são uma chatice. A comida não é assim nada de especial. Até nem ligam muito a futebol. Fado nunca foram grandes fãs. Juram a pés juntos, que esta foi a última vez que lá foram de férias, nunca mais. Se for preciso até dizem que as bolas de berlim na praia são más.

Enervam-me solenemente os dois tipos. Não consigo evitar ficar um bocado ofendida cada vez que falam mal do meu país. Se for de um estrangeiro, acho logo que não tem esse direito, porque nem sequer é Português. Se for de um Português tenho vontade de lhes chamar traidores e de lhes dar um par de estalos.
Enerva-me igualmente os que estão num país que só criticam, devem ter uma vida difícil por viverem num sítio que não gostam. Mas porque é que aqui estão? Vão-se embora! Se não puderem voltar a Portgual vão para outro sítio qualquer.
Para mim Portugal é maravilhoso, no entanto há umas quantas coisas que podiam ser melhoradas. Adoro Timor-Leste e a Austrália e ambos têm coisas maravilhosas e outras que podiam ser melhoradas, tal como qualquer outro sítio do Mundo.

Nem 8 nem 80, meus senhores.

Ir ou não ir de férias em Agosto?

Todos os santos anos me questiono se devo ou não ir de vacanças em Agosto. E todos os anos me arrependo de ir.
Trabalhar em Agosto, em Évora, é delicioso. Não há trânsito (pasme-se!!! Em Évora há trânsito!), é mais fácil estacionar, posso ir ao centro às horas que me apetecer que não há ninguém nas lojas, não há filas e as esplanadas são todas minhas. E dos milhares de turistas que por aqui pululam. Chineses e brasileiros. O que faz com que eu possa cruzar a perna e dizer mal de quem me apetecer sem que o gajo da mesa ao lado vá contar ao meu alvo por ser seu primo ou amigo do peito.
Está um calor monstro. Daqueles mesmos bons. Que se colam à pele e nos incha os pés. Que dá para enfiar uns shorts e um chapéu e ir aos sítios todos onde não cabemos durante o ano.
E dá para nos juntarmos com os nossos amigos resistentes às férias em Agosto de volta de uma imperial gelada e um belo prato de tremoços. Rindo e dizendo baboseiras à sombra. Há lá melhor que isto?
Pode haver. A gaita é essa. Há os nossos outros amigos todos que abalam de férias em Agosto e que vão para o mesmo sítio que nós. Que nos acompanham nos mergulhos, nas gargalhadas, nos desabafos acerca do emprego e outras tretas. Os amigos que até vivem connosco o ano todo mas que, nas férias, estão como nós: sem pressas e mais leves. E os outros amigos que veem das nossas terras e das terras deles ou das outras onde moram e tudo partilham connosco. E há a loucura das petiscadas, dos sunsets improvisados, das brigas por causa da ordem dos banhos, da escolha do sítio para jantar que acaba por ser sempre no sítio do costume porque a Belinha já sabe do que gostamos, do “amanhã não como nem um grão de areia e vou correr 30 km” e do “Bolas, já são 10 da manhã, corro amanhã que agora já está muito calor”.
E isto faz-te esquecer a promessa feito no dia 30 de Julho do ano passado: nunca mais vou de férias em Agosto porque em Agosto é que se trabalha bem em Évora. E esquece-se sempre e quando se enterra o pé na areia a escaldar de Montegordo e começamos a trabalhar no bronzeado das axilas. Sim, porque de tanto levantar o braço para cumprimentar quem conhecemos, as axilas são a parte mais bronzeada do nosso corpo. E assim, fujo daqui e vou de férias para ao pé dos meus amigos de cá. Nada como ir para fora cá dentro e fazer férias com quem passamos o ano. Podia ser diferente. Mas não era tão bom.