Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

sábado, 24 de outubro de 2015

Eu sei lá se são os cheneses ou o cuarago manina!!!

Vivo atormentada por um bicho chamado ciência política, económica e social portuguesa.
Sou emigrante, mas como disse um dia a minha amiga Isabel da Rocha, vais passar por vários estágios na tua vida de emigrante e, verdade seja dita e confirmada, não é que a Guru das emigrantices tem toda a razão, passo a explicar:
Primeira sensação quando saímos do nosso país é que tudo é shit, tudo é mau, todos os serviços e funcionários públicos são lentos, que tudo corre mal. Passas as férias a contar peripécias engraçadas, como as meias com sandálias ou os texugos debaixo dos braços que encontras numa viagem de Bus. Quando conheces os locais, quase que os obrigas a visitar os site do Turismo de Portugal, porque lá é que existem as melhores praias da Europa. 
Passando esta fase que dura mais ou menos 1 ano, começamos a pensar que as coisas não são assim tão más e que começas a defender algumas coisas que se fazem em Portugal. Após esta percepção de realidade patriota, começamos então por esta ordem, o período de saudade. Saudade de tudo o que nos fazia feliz, porque todo o resto é uma bela merdinha e continuará a ser, os salários baixos, as portuguesinhas mal educadas e revoltadas, as famílias sem um tostão, etc. 
Quando vamos de férias comemos que nem uma vacas, porque o que nos faz realmente falta é o pastelinho de bacalhau frito num óleo rançoso, numa tasca mal lavada e com cheiro a casa de banho encharcada de Sonasol ou até em muitos casos lixívia do frasco amarelo. 
Pensamos que aquela terra já não nos pertence e uma vez fora dela, nunca mais serás o mesmo, porque não interessa para onde emigraste, o português terá sempre a noção que a casa da mãe será sempre o porto seguro para alguma eventualidade no percurso. Casa que é nossa, mas no momento está emprestado ao irmão mais velho. Portanto as viagens de férias que no meu caso até são recorrentes, começam a fazer uma certa comichão ao português residente no país – Então mas tens assim tantas férias (e dinheiro??) sim porque vamos de avião, Ryanair mas avião!!! 
No segundo ano de emigrante, quase tudo no país de acolhimento começa a fazer alguma comichão, é a sandália de plástico, é o sovaco da outra, é o email que não chegou, porque aqui também há gente incompetente, é a vizinha que fritou salsichas, #euseilásesãooschinesesouocuarlhomanina. 
Há uma fase importante, esta a Isabel ensinou-me como descartar, (Alemã sinistra, conhecida): Olha Bita estou a pensar ir de férias a Portugal!!! Podes me aconselhar algo? Bita: Olha que bom! Sim sim eu depois envio-te um e-mail!!! Eu quero é que tu vás pó alhinho mais velho e vai procurar à Internet. Talvez se me tivesses apanhado no primeiro ano de emigrante, safafas-te com e-mail e sítio baratos, agora mando-te pá Comporta que até de fo#$#!!! Opá tenho lá eu agora tempo para procurar sítios para visitar em Portugal, sou alguma Viagens Abreu???
Começo do terceiro ano, ainda não sei o que me espera, mas ainda gosto de cá andar, o inverno faz-me bem, porque sempre posso meter o gorro e passar por alemã. Não tenho de conviver em sociedade porque está um frio do camandro e a minha casa é bem quentinha, digamos que hibernação até ao Natal, altura que vou a Portugal à terra comer um pastel de bacalhau na tasca da Javardona.



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Jogo da Bola

Quando não há Benfica a aquecer-me a alma, há o Napoli a aquecer-me as entranhas. A principio foi difícil habituar-me ao azul, mas o tom celeste lá acabou por intervir divinamente. Milagre! 
Domingo passado foi bonito ver a Fiorentina, em casa napolitana, levar um jeitoso 2-1 nas orelhas. O Paulo Sousa é certamente um fofinho, mas patriotismos no futebol só quando joga a selecção nacional. Até lá, contra o Napoli, é arrear quem vier! Enquanto via o Napoli a brilhar dei por mim a pensar no jogo do Mundial de Rugby do dia anterior entre All-Blacks e França. Fazer as habituais comparações entre as duas modalidades sobre fair-play de jogadores, àrbitros e público, é parlapié de pseudo-entendidos-amantes-da-matéria. É gastar latim, quando valores mais altos se “alevantam”
Urge comparar o que é verdadeiramente essencial: os calções dos jogadores. Pela vossa e pela minha saúde vistam um par de calças aos futebolistas de uma vez por todas porque aquela merda é uma afronta à palavra “calção”. A particularidade dos calções é serem curtos. SE NÃO SÃO CURTOS NÃO SÃO CALÇÕES! 
Os anos passam e aquela porcaria que os futebolistas vestem fica progressivamente mais longa. E não bastavam os calções estarem mais longos, a merda das meias também tinham de subir até à coxa. Não tarda levam um cinto de ligas para as segurar. 
P´LO AMOR DA SANTA! Os senhores da FIFA que se sentem a ver um jogo de Rugby (ainda faltam uns joguitos para terminar o Mundial) e atentem no comprimento dos calções dos jogadores – e até do àrbitro! Não sei se é uma questão de decoro ou uma questão de precaução para os meninos não apanharem frio nas coxas e não se constiparem, se os senhores do marketing fazem intenção de projectar publicidade nos calções dos jogadores como se fossem ecrãs televisivos ou se é uma espécie de greve inventada pelo sindicato dos jogadores de futebol, mas que estão a fazer figura de palhaços, lá isso estão. 
Salvo raras excepções, os futebolistas são rapazinhos de físicos tonificados, sempre interessantes e harmoniosos à vista enquanto alguns jogadores de rugby parecem carros de bois com coxas do diâmetro da rotunda do Marquês do Pombal e massa adiposa que dava para uma família inteira. Então porque raio é que os jogadores de rugby vestem t-shirts cada vez mais justas e calções mais curtos e os futebolistas se disfarçam de sacas de batatas?!? Mas que credibilidade, perante o público feminino, é que podem ter 11 gajos vestidos com roupa cinco números acima? Mas aquilo é alguma festa de pijama? Ainda querem vocês que as mulheres sigam o futebol de forma mais interessada. Eh pá,  experimentem vestir-se como deve ser e pode ser que descubram a pólvora! 
Chegou-se a um tal exagero de decoro que de cada vez que se vê um futebolista lesionado em campo e o médico que o assiste permite antever um pouco mais do seu físico, parece o início de um show de strip-tease tal não é o cúmulo a que se chegou. Só falta lançarmos uns assobios sonoros ao ar e gritar “Tira! Tira! Tira!”
Que os jogadores da NBA (e todos os outros que os tentam imitar) usem calções tamanho FONIXQUÉSGRANDECOMÓRAIOXXXXXXXXXXXXL é um problema deles, pois assim como assim à hora a que normalmente dão os jogos da NBA tanto faz jogarem de pelota ou de escafandro mas os senhores da Bola bem que podiam rever os equipamentos. 
Já não bastava chamar tecido técnico àquela viscose brilhante de qualidade altamente duvidosa.

domingo, 18 de outubro de 2015

IPhodace estou sem IPhone!

Viver num estrangeiro com frio, não me mete medo. Viver num estrangeiro sem IPhone, aí a coisa pega mal!!! 

A caminho de um compromisso importante o meu querido e utilitário IPhone deu-lhe o IPhodace e morreu, digamos que não stressei muito porque pensei que fosse a bateria (ah! Em casa carrego esta cena, não vou já stressar e tal e coisa), mas o cabresto chegou a casa e não ligou. Como que se de um AVC se tratasse automaticamente ligámos para o tinóni Apple.

Conclusão, sem demoras e no prazo de menos de 10 dias tenho aquele instrumento de trabalho, lazer e sanidade de volta ao aconchego da minha mala cheia de papéis de chocolate e bilhetes de Bus. Não é fácil saber e comprovar que se vive dependente de uma merda que pesa menos de 300 gramas e tem uma Siri. Mas o que me provoca stress e tristeza é como vou comunicar com as minhas amigas? A minha mãe? 

Aproveitando esta cena, vou tentar mudar de vida.

Dar valor às mãos que Deus me deu e continuar o trabalho, ver TV alemã e, adormecer com os sons do prédio, a vizinha tossir ou aquele espirro profundo que estremece os pilares. Ver que existe vida no Bus, ver que existem pessoas bem vestidas aqui, que afinal há vida para além de uma conexão de WIFI ou mesmo existem olhos que podem captar imagens ao invés de as fotografar. Posso até utilizar o PC quando estou em casa, mas vou aproveitar para acabar de ler aquele livro que veio de Portugal sem ser aberto porque a Ryanair não tem espaço nem para eu abrir uma garrafa de vinho, quanto mais para relaxar na minha leitura.

Posso até escrever cartas à minha mãe, mas a primeira pergunta que me faria seria: Estás parva? Eu tenho Facebook! Tenho cá tempo para ler carta em papel, manda um e-mail.

Poderia neste dias, fazer o desmame da tecnologia, tentar relaxar, tentar adivinhar qual a temperatura local, mas decidi escrever um post e queimar o cartuxo de dizer mal de alguém, eu escrevo sobre esta terrível realidade, uma emigrante sem telemóvel.

 Portanto eu decidi, nestes próximos dez dias pedir um phone emprestado, não há cá merdas nem cenas de BIO nóia, que as radiações fazem mal e o camandro. Opá tu dorme com o telemóvel longe da cabeça!!! (dizem as malucas daqui) - Filhas tomara eu, às vezes ter algum sinal de ondas magnéticas na minha cabeça, talvez houvesse mais movimentação cerebral e deixasse de fazer tanta merda!

É isso mesmo, sou dependente desta cena e não quero tratamento, só quero que os gajos da Apple me ponham uma bateria nova e que dure pelo menos um dia!

P.s. Apple fizeste coisas tan bouas, mas esqueceste-te de uma bateria que dure, principalmente às centenas de mensagens que recebo, das centenas de grupos que tenho. 



sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Ai Mãezinha…

Livros sobre maternidade é vê-los nas livrarias aos pontapés. Livros sobre emigrantices é coisa pouca mas há artigos nos jornais e nas revistas não faltam crónicas sobre o tema. Agora livrinhos, tipo guias com dicas e sugestões para Mães Emigrantes: ESSES NEM VÊ-LOS! 
Eu gosto de estar preparada, ter a lição estudada e confesso que se esta coisa de ser Mãe já não é pêra doce apesar de todos os avisos, fazê-lo no estrangeiro é como ter lições de condução na Madeira num carro sem travões. Como a grande maioria das mãe quando tenho um caso de emergência com a minha filha a primeira coisa que faço é ligar à avó, que para além de já ter experiência óbvia na matéria acrescenta ainda o título de enfermagem. Entre muitas situações, recordo-me da minha mãe ter dito “vai à farmácia comprar xarope de maçã reineta”. Eu fui e pedi o dito xarope, mas até hoje o farmacêutico está convencido que eu não sei a diferença entre uma farmácia e uma frutaria. No dia em que registamos a nossa filha, eu senti-me uma perfeita anormal por ter um nome completo com mais de cinco nomes, coisa de que a senhora que nos atendeu apenas se recordava de ter visto com uma moça columbiana “mas que não tinha tantos nomes como a senhora...tinha só 3”. De facto, deveríamos ser todos como os italianos, ter um, máximo dois, nomes próprios, um apelido apenas e 3,786.945 pessoas com o nome igual ao nosso. Ora digam lá se não É COISA MUUUUUITO MAIS INTELIGENTE!? Mas se há coisas que se explicam com um “culturas diferentes" há outras que nem na marra. Ora expliquem lá a uma mãe italiana que um cueiro não é um vestido e que os meninos recém-nascidos também os vestem...e assistam a uma mudança radical da sua expressão facial. Pois... 
Ainda há uns dias em conversa com uma outra mãe emigrante cheguei à conclusão que afinal não sou a única que passa a vida a responder à pergunta “mas então que língua é que falas com a tua filha?” e tentar manter uma perspectiva positiva de que já nem isso consigo porque depois de dois anos (quanto mais 15) fora nenhum – repito, NENHUM – emigrante consegue falar a sua língua materna sem pelo meio meter uma argolada estrangeira. Não há escapatória para o mais são dos emigrantes, é fisiológico: calinadas na língua materna é bicho que ataca as entranhas de todo o emigrante. Eu espero que a minha filha consiga aprender a falar um português decente, sem sotaques esquisitos que deêm motivo de galhofa, mas tendo em conta os pontapés exemplares que eu mando nos tomates da gramática portuguesa, a miúda está perdida. 
Não bastassem todos estes dilemas digam-me lá que raio de infância é a da minha filha num país que desconhece o Cerelac e o Nestum!

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Cenas sem interesse

Isto não está nada fácil. Nas últimas duas semanas devo ter escrito seguramente uma dezena de textos para o blogue, mas que por razões minhas acabaram não sendo publicados. Hoje, a Bita perguntava-me se eu já tinha escrito algum texto. Eu disse que sim. Mas também lhe disse que só tinha escrito merda. O que não é necessariamente verdade. Eram apenas queixumes. Depois pensei que essa tinha sido a minha visão das últimas semanas, que não sendo negativas, tinham sido maçudas, chatinhas.

Um dos textos era sobre os sinais de clara velhice que se me abateram que nem camiões TIR, em formato alergias. Eu não sei o que fazer à minha vida com isto. Sinto-me em osmose com os lenços de papel. E não bastando os àcaros a lixar-me a vida eis que é todo um mundo anti-estamínico, anti-alergénico e estirilizado a rebentar-me na cara com as sacanas das etiquetas dos preços sempre acima dos dois dígitos. A Pdi não falha.

Depois escrevi um texto sobre a maneira como as pessoas perdem trabalhos e empregos nesta terra. Assisti em menos de uma semana a dois casos de patrões sem escrúpulos que durante anos dão provas da sua cretinice e que decidem num momento de diarreia mental arrebatar a coisa com um despedimento ao género "eh pá, não venhas amanhã, que já não tens trabalho". Em poucos segundos a vida de quem é despedido, sem justo contrato quanto mais justa causa, fica suspensa. A filha da putice é coisa para me fazer sacar o dicionário minhoto do bolso e abrir na página "asneirada cabeluda".

Estava a campanha eleitoral a dar as últimas quando depois de ler no facebook um comentário ao género "quem não votar merece que lhe nasça uma árvore no cu" comecei a escrever um texto sobre a abstenção. Infelizmente, a grande maioria dos emigrantes que não votam é porque não lhes é facilitado o processo. Para vos dar um exemplo, desde que eu cheguei a Nápoles que o Consulado está encerrado. Se tenho de tratar de alguma coisa, ou simplesmente pedir uma informação mais burocrática tenho de ir a Roma - com data e hora marcada. Raras são as vezes em que a marcação me dá jeito, até porque de cada vez que vou a Roma são 200km. Ora acredito que muitos emigrantes desesperem para resolver "burocracias" em embaixadas a centenas e centenas de quilómetros, porque os serviços consulares simplesmente não existem ou pior porque foram encerrados nos últimos anos, coisa que não bate certo, sendo que os emigrantes são cada vez mais. O deputado do PAN seguramente batia palminhas de felicidade, mas antes que os cus dos emigrantes se tornem vasos de pinheiros bravos, favor deixar claro se querem que os emigrantes também votem.

Eu disse-vos que eram textos sem interesse rigorosamente nenhum.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Faço tricot e atão?



  na página: https://www.facebook.com/bitaschon)


Optar por uma postura positiva depois de um verão espectacular em Portugal, não é de todo a minha praia. Nasci de cu virado para a lua, mas agora a lua parece que se virou para o outro lado e eu tive de emigrar.
As coisas nunca são fáceis para nenhum ser, até o nosso fofo Cristiano Ronaldo teve de lançar uma linha de sapatos e ser entrevistado pela anoréctica da Diana super model of the world, então porque seria eu a sortuda do século? E não ter de ralar com os coutos no mercado de trabalho?

 (Lamento informar-te Bita, mas o teu cu deixou de estar virado para o ângulo directo da lua e ou começas a trabalhar ou aquela malinha Chanel não vai ser só um desejo de Natal da Pepa!)

De modos que, para além da carreira blá blá, dedico me a uma cena que para além de ser melhor que a yoga, dou largas a minha intensa e inesgotável criatividade, chamem o que quiserem, mas eu faço tricot!

Posto isto, visto ter dedos para a coisa, há uns tempos atrás decidi fazer uma venda directa ao público e fui de banca armada para uma feira  da universidade de Mainz. Montei a barraca, expus o meu trabalho. As bancas que estavam ao meu lado, vendiam roupa usada, bem como biquínis, camisolas com manchas de suor etc, tudo a dois euros.  Não tardou e as alemonas comentaram as minhas criações únicas e exclusivas:
 - és tu que fazes? À mão? Uau! Quanto custa? Ahm tão caro (20 euros)!
 (Ó puta é caro? É feito à mão, e é novo! Não são como as cuecas que compraste na banca aqui do lado, que foram usadas e besuntadas por aquela vendedora que deve tomar banho só na altura do Oktoberfest!)

Nesse dia vendi pouco e, fiquei triste, porque esta sociedade de loiras com as beiças pintadas de encarnado, não sabem o que é artesanato, hand made, não entendem que existe um fio de lã que depois enrolado e manejado com destreza se transforma em arte, que pode ser usada nos pescoços de pessoas com bom gosto!
Desisto e, informo que as maiores encomendas que tenho são para Portugal e apesar da crise e blá blá pardais ao ninho, nós sabemos dar valor à cena de dar ao dedo e fazer arte ou whatever com as manaplas.

Todas as minhas criações são para vocês minhas portuguesas cheias de pinta, porque estas meninas apesar de ganharem vinte vezes mais que vocês gastam dinheiro em second hand em bancas de feira e, preferem usar um cachecol feito na Indonésia, do que um original feito pela Bitaschön.

Deixem I'll be back e quando quiserem venderei e enrrabarei com o punho dos meus altos preços!
Por favor não deixem morrer esta minha criatividade e façam LIKE na minha página, só abro a loja no Natal, ou levo para PORTUGAL ou envio por correio internacional (que não é assim tão caro)



Vá a veri... que tenho de ir trabalhar!

Já que me autorizam a publicidade: Tomem lá disto!