Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

As Jet Laggers




Sou a Vera, tenho 35 anos e tou aqui pras curvas! Nasci em Lisboa e aos 30 decidi que estava na altura de mudar o Mundo e de me mudar a mim. Fiz voluntariado nas montanhas de Timor-Leste, a brincar a brincar, vivi lá quase três anos. Em 2014, fiz as malas para Melbourne. Por enquanto é aqui que sou Feliz! Estudei Engenharia Civil, ponto final, parágrafo. DE-TES-TO trabalhar. Não tem a ver com o emprego, com o chefe, com os colegas, com nada: pura e simplesmente detesto ser obrigada a trabalhar. Se fosse trabalhar apenas quando me apetece e à hora que me apetece, seria três vezes mais produtiva. Tenho tido alguma dificuldade em convencer outras pessoas disto, mas para mim faz todo o sentido. Jet lag? Para aquelas pessoas que dizem “Ai, fiz agora a viagem Madrid-Lisboa e estou a sofrer de jet lag”, vão lá viver para o outro lado do Mundo e depois conversamos.

 


Sou a Isabel. Tenho 37 anos e há mais ou menos 3 séculos tirei o curso de Comunicação. Fui jornalista em Lisboa e continuei a sê-lo em França. Num belo mês de Agosto fartei-me dos croissants simples e apanhei um avião para Macau. Fui madrinha de casamento de uma amiga chinesa, fiz um filme indiano e aprendi a andar de Crocs em dias de tufão. Abri uma produtora e fui muito feliz. Hoje estou apta a dar explicações em como comer com pauzinhos. Um dia em Hong Kong um gajo vê-me a atravessar a estrada e depois de me perseguir durante 3 minutos, declarou-se. Eu caí que nem uma patinha na esparrela do italiano e troquei o Minchi pela Pizza. Hoje a viver em Nápoles, sou mãe da Irene e este continua a ser o ponto alto da minha carreira. Sofro muito com o Jet Lag e com as correntes de ar.



A primeira coisa que faço todos os dias, em jeito de culto, é saltar para cima da balança. Tenho 41 anos e ainda acredito que haja um milagre e emagreça 10 kgs a dormir. Sou advogada. Ou não. Depende dos dias e do estado de espírito. Vim de Lisboa para Évora para ser mulher de um alentejano nascido em Alvalade. Migrar pode ser mais penoso que emigrar. No meu caso tem sido. O que me levou a desenvolver a minha capacidade de dizer palavrões em jeito de rajada e aposto que venceria todos os concursos de spelling se os houvesse por cá. Gosto de cantar e faço-o a toda a hora. Mesmo que isso implique desencadear instintos homicidas nos que me rodeiam. Tenho dois filhos por quem sou completamente apaixonada e dormi com os meus primeiros Loubotin enfiados nos pés no dia em que os recebi. Se me querem ver feliz, ponham-me sentada ao volante na A2 a caminho de Lisboa. Ou no lugar da pendura. Sempre aproveito para dormir, o meu desporto de eleição. Não sou convencional mas detesto que se quebrem convenções. Sou uma gaja simples desde que o conceito de simples seja o meu. E a minha vida dava um filme bem ao jeito de Bollywood. Mas isso vou-vos contando aos bocados… Ah! Sou a Ana.
 

Sou a Teresa, tenho 31 anos e deixei a extensa planície do Alentejo por uma miopia e um problema de humidade em Macau. As boas notícias são que há cá vinho decente! E que no meio da valente confusão que é esta terra, isto até é encantador. E vá, que após anos de vida de solteira com direito a gato e tudo, lá o amor me encontrou. As más noticias são que uma ida a Portugal me custa 2 semanas de jet lag e uma pilha de guita. Isso, uma data de rinites que me fizeram livrar do gato, e continuo sem dominar a shelf life das bananas neste clima. Como emigrante que se preze, iniciei recentemente a plantação dum hortejo em casa e o meu frigorifico está recheado de víveres Portugueses. Sou semi boss na cozinha, na modalidade do improviso artístico. Estudei 6 línguas, das quais 2 mal arranho e 4 misturo no dia-a-dia, muitas vezes na mesma frase.Possuo um naperon, mas nenhum cão de louça. Da minha viagem anual a Portugal trago sempre enchidos que me ocupam espaço no frigorífico durante o ano inteiro. Frequento as romarias Portuguesas quando as há cá, chego a fazer-me de interessada pela bola e choro por amor a isto tudo. Mas abomino a palavra "tuga" e todas as suas variantes e aflige-me malta que dá erros e que vilipendia da pontuação. As notícias, em especial de Portugal, são a minha novela das 9. E enfim, após décadas de pesquisa aprofundada venho constatar o que já se sabia: a felicidade reside em nós, nos simples detalhes, e em entrar no Pingo Doce depois de um ano fora de Portugal.Fazendo minhas as palavras do outro senhor: "se não contarmos com os ataques de nervos, isto nem tem corrido pior”.

3 comentários:

  1. Quero rir-me!!! Va partilhem essas aventuras ja que o meu jet-leg Coimbra-figueira ainda vai dando para ler as vossas historias!!
    Beijinhos as 3 de fora e à quarta tuga semi-alentejana!
    Boa sorte!!!

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  2. Promete!
    Então se não se importam passarei por cá para ler as novidades, ok?

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