Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A galinha da vizinha

Os emigrantes portugueses são monarcas na arte da comparação. Nada escapa ao olho clínico e ao juízo infalível do emigrante português. Comparar o país de onde se é natural com o país de acolhimento é um género de desporto nacional emigrante. 
Não interessa se está emigrado há 5 anos ou há 5 dias, pois o emigrante será sempre um doutorado em artes comparativas. A mais extraordinária característica desta enorme comunidade científica é a coerência opinativa. Quando estão em Portugal, de férias, por uns dias, ou apenas de raspão, defendem a tese que a escolha de ter emigrado foi sem sombra de dúvida a mais acertada já que “Portugal é uma bela merda”. Quando estão no desterro da nação de acolhimento, a contar pelos dedos da mão os dias que faltam para regressar à Pátria, eis que Portugal é elevado a todo o seu esplendor com o sempre batido “eh pá, aquilo sim é que é bom”. Diz que é a saudade a bater forte. Balelas! É claro, meus queridos amigos, que não se deve generalizar e, é claro também, que os emigrantes portugueses não são os únicos a cair nesta esparrela, mas como quem está a escrever o texto sou eu, caguei bem para essa merda. 
Nesta minha já longa jornada de emigrantices, deixei-me de comparações faz tempo e por uma simples razão: não leva a lado nenhum. É claro que o coração bate sempre mais forte por aquilo que nos é familiar e é justo que assim seja – ora bolas, não somos feitos de ferro - mas também é claro como água que só se muda quando tem mesmo de ser e que essa mudança é sempre na esperança de mudar para melhor. Às vezes corre bem (e ainda bem), outras corre mal (paciência), mas comparar uma pizza a um cozido à portuguesa, é na sua essência, uma cretinice. 
Portugal é melhor numas coisas mas também é uma bela bosta noutras, exactamente como em Itália onde a famosa “Bella Vita” compete seriamente com merdas que “não cabem na cabeça dum tinhoso”. A galinha da vizinha pode ser mais gorda, mais esvoaçante e ter mais penas que a nossa, mas não significa que seja melhor ou pior que a nossa, é apenas diferente. Se espaço houver para se melhorar, então que se faça alguma coisa nesse sentido, mas se a crítica é apenas por desporto então mais vale estarmos “sugaditos” e caladinhos no nosso canto. 
As comparações habitualmente levam-nos a confundir feitios com defeitos.  Somos como somos, não me lixem!

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