Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

terça-feira, 30 de junho de 2015

Férias de Verão na Terra

Emigrante que se preze vai de Férias à Terra. Aliás, Ir à Terra no Verão é uma cena que só mesmo os emigrantes é que entendem. Mesmo os emigrantes mais viajados, aventureiros e anticonformistas não vão para fora de pé no que diz respeito a este assunto – valores mais altos se levantam! Até quem vive no epicentro de um destino paradisíaco não cede: Verão que é Verão é na Terra. Ponto final. 
Aquelas semanas que antecedem a partida para as férias de Verão são de um excitex impróprio para cardíacos. São tantos os planos. Imaginam-se dias de praia intermináveis, esplanadagem infinita até criar verdete na cadeira, sardinhadas rijas e noitadas inesquecíveis com os amigos, que habitualmente são os melhores do mundo. 
A aterragem do avião no aeroporto da Portela é o clímax. O sonho está ali, realizou-se! O céu azul confirma que até São Pedro está pelos ajustes. Aaaaah! Retiram-se as bagagens com sorriso de orelha a orelha que em poucos minutos se transforma em lágrimas de alegria quando as primeiras caras que se vê são a família mais próxima. É o céu! 
Bagagens no carro e...prontossss acabaram as férias. Sai-se do aeroporto e a cada quilómetro de segunda circular que se faz, é ver mais um plano a ir por água abaixo. É o princípio do fim. "Porquê?!?", perguntam vocês. Porque o Verão do Emigrante na Terra é uma espécie de ideal político, simplesmente não funciona como previsto. 
Ir à Terra é sinónimo de encontros obrigatórios, família e amigos que nos querem ver – alguns se não os visitamos ficam piursos, umas damas ofendidas – depois há toda uma série de coisas pendentes para tratar que se deveria ter feito na “última vez que cá tive” e que incluem ir ao banco, esperar no guichet da câmara municipal, levar uma estopada no registo civil para além da visita obrigatória ao médico ou, pior, ao dentista. No meio de tudo isto há ainda uma média de dois almoços combinados por dia e 3 jantares por noite, fora o lanche, o brunch, o café, o pequeno-almoço, o chá e até a cervejola ao final de tarde. Tudo isto está combinado, adjudicado e não admite reajustes e muito menos falhas de presença. Toda a espécie de programas que deveriam fazer parte de umas férias relaxantes mas que ao invés passam a fazer parte de uma agenda recheada que habitualmente atira o desgraçado do emigrante para um canto às 21h. Bom, a noitada já era. 
As férias de Verão na Terra são um oásis. A malta emigrante bem tenta, às vezes ficamos ali no limbo, no quase, mas a verdade verdadinha é que nenhum de nós consegue. 
Já no avião de regresso a casa depois das supostas Férias de Verão na Terra o emigrante jura para nunca mais, pois que precisa de ir descansar de um ano de trabalho e que de facto foram curtos os dias em que se dedicou ao ócio. Que se regressa mais cansado do que quando chegou a Portugal. Ali, a seco projectam-se férias que hão-de vir para um destino longe com’ó caraças, onde não se avistem repartições de finanças nem lojas do cidadão e onde a existência seja feita em regime de “não quero fazer um cu pá"
Mas depois os dias passam, as semanas também, os meses avolumam-se e até uma escapada paradisíaca qualquer não acalma o bicho – VERÃO É NA TERRA! Estúpidos. Entrámos novamente no vértice da ilusão.
Eh pá, não fosse o pão com manteiga e o abraço dos amigos era melhor que batêssemos com a cabeça na parede. Com força!

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