Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

40 graus

Junho. Ainda não é Verão. 30 e tal graus.
Há quem não goste mas eu nasci para viver assim. Adoro este calor. Que se nos cola à pele e ao estado de alma. Que nos deixa numa latência que nos desnorteia. Que apela à tristeza e à solidão.
É o calor da esteva. O calor amarelo que nos faz pensar se o deserto não estará mais perto que o norte de áfrica. É o tempo que nos torna indolentes e nos provoca gargalhadas da moleza para a qual nos atira.
Tão bom este calor de Évora. Que se vê no vapor que sai do chão e dos telhados escarlate desmaiado. Que nos cativa no andar silencioso de quem se atreve a calcorrear as ruas quando ele se instala. E um calor que fala connosco e que nos faz sentir que vale a pena viver aqui. Longe do que pode não ser o melhor do mundo mas que é o nosso. Aprendi a amar esta cidade e a sua luz. O céu de Évora é mágico. Tem cores que não há em mais lado nenhum. A luz da minha Lisboa é imbatível mas este céu teima em fazer-me acreditar que aqui há cores que ainda não foram inventadas.
E começo a sentir-me chegar a casa sempre que chego. Não da alma. Mas do corpo. Nada bate a delícia de dormir de janela aberta e sentir o cheiro da planície e a brisa quente de um Suão que se sabe que não é. Vou-me fazendo a isto. Criando raízes. Já falo daqui. Já me sinto de cá. E isso torna-me numa traidora sem perdão. Porque escolhi ser de Beja pouco depois de nascer em Lisboa. E vendi-me à cidade rival. É mais forte que nós: somos de onde o nosso corpo se encosta e de onde a nossa alma se prende. 
Tornei-me alentejana. Raios ma partam! Estou lixada com esta merda.

1 comentário:

  1. O alentejo tem disto e tem dias, feudal, pobre e tão rico de significados e a água que faz falta vai vir, vem sempre.

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