Aventuras e desventuras de moças em permanente movimento migratório.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Coreia

“Como é que é a Coreia?” surpreendeu-me esta manhã a mulher-a-dias cá de casa. Disse-lhe que não conhecia, nunca lá estive. Mas gostava pois tenho as melhores referências. Perguntei-lhe o porquê da curiosidade e enquanto os olhos ficavam brilhantes explicava que o filho “foi referenciado pela escola para ir trabalhar por 1 ano, talvez mais, num restaurante de um Chef famoso na Coreia…enfim, um dilema”
Eu disse-lhe para aligeirar a coisa, não era preciso estar triste, afinal de contas à primeira vista parecia um convite a não recusar para um rapaz que vai fazer 20 anos e terminou o ano com a melhor média do curso de Chef de cozinha. Melhor que ninguém ele haveria de tomar a decisão que lhe fosse mais acertada.  
“Mas ele quer ir, Isabel, eu é que não quero que ele vá. Parte-me o coração saber que ele está longe de mim!”. Bom, eu até sou uma gaja porreira mas doirar a pílula é coisa que não vai com o meu tom de pele, por isso enquanto já as lágrimas lhe corriam pelo rosto, sem papas na língua disse-lhe “minha cara, se ninguém te diz digo eu, o problema não é do teu filho, mas teu. Isso na minha terra chama-se egoísmo!” 
Sou emigrante, sou mãe e sou filha. Tenho as credenciais TODAS para discursar em temas deste género e com toda a franqueza vos digo: das coisas que mais dói antes da partida é a insistência do nosso Pai e da nossa Mãe para ficarmos. Custa horrores! É uma pressão horrível, injusta, que nos obriga a pesar num prato o amor pela família e no outro o amor próprio. 
Expliquei-lhe que muitos da idade do filho emigram sem qualquer plano, sem trabalho em vista, às vezes nem sequer um número de telefone de alguém que lá no país de acolhimento os possa socorrer num momento de aflição. Expliquei-lhe que o futuro pertence-lhe e que foi para este momento que o educaram. Expliquei-lhe que a saudade lhe irá bater mais forte a ela que ao filho mas que é para ISTO que se cria um filho. 
“Tenho de usar a razão, não é Isabel?” Não, tens de usar o coração porque, quem ama aceita a decisão de um filho partir para onde quer que seja.


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